
Refém das Redes Sociais? Crônica, por Romero Falcão*
12/08/2025 -
"Exposição do Corpo e da Alma"
O grande escritor, dramaturgo, criador do prestigiado "Baile do Menino Deus," Ronaldo Correia de Brito, fez a seguinte reflexão: "Ao mesmo tempo que precisa do exercício silencioso da criação, de estar sozinho trabalhando, o mundo cobra cada dia mais que o escritor chegue ao limite de sua resistência, cumprido uma maratona de conferências, entrevistas, artigos, numa exposição do corpo e da alma para ser visto, não esquecido, lido, cortejado. É preferível a solidão criadora"?

Parece Negócio de Seita
Observo com atenção a inquietação de Ronaldo. Há até um dito popular: "quem não é visto, não é lembrado". E ser lembrado nas redes sociais "é chegar ao limite da resistência". Amplio a análise para outras camadas de vitrines das redes cujo universo da política, da arte, da escrita, procura se adequar à régua dos seguidores. Dia desses um jornalista dizia que os políticos antes de opinarem sobre determinada pauta, tema, recorrem aos seguidores virtuais. Observam, estudam como estão se manifestando diante do assunto. É imperativo não contrariar os milhões de seguidores eleitores - raiz. Não gosto desse nome - seguidores - parece negócio de seita, não parece? Mas voltando à vaca fria, é de se notar que, cantores, celebridades, no mesmo nexo, não comentam temas nevrálgicos, nada que gere polêmica e por conseguinte debandada de trilhões de seguidores do dia pra noite.

Falta de Interpretação de Texto
Do mesmo modo, seguindo a linha, há escritores que, não carregam na pena, haja vista o receio de magoar o tribunal das redes sociais, cujo peso da martelada pode transformar em poucas horas, amor em ódio, fã em inimigo, fé em heresia. Este cronista que vos escreve, ganhou indiferença de uns, cancelamento de outros, numa rede social, após publicar um poema crítico sobre a humanização e a inversão de valores no mundo pet. Longe de mim "o jogo do contente", da personagem,"Poliana", pra agradar o leitor. Conheci um poeta, por sinal excelente poeta, que faz uma triagem antes de postar suas poesias. As bem digeridas pelos seguidores, grupos de zap de amigos, da família, e as proibidas de pisar o pantanoso solo das redes sociais. Sem falar na falta de interpretação de texto - um câncer no organismo digital - a cultura do "vou te processar", e as mentes extremistas, o neurônio neolítico, cujo termômetro explode em altas temperaturas. Por outro lado, cada qual conhece sua bolha, sua plateia, no zap, X, Facebook, Instagram. Sabe atirar carne aos leões, lacrar, jogar pra torcida. Nesse sentido, cai bem o escritor, Robert Heinlein, "É mais fácil manipular mil pessoas apelando para os seus preconceitos do que convencer uma única apelando para a lógica". Somos reféns das redes sociais? Parafraseando o autor de "Galileia", no primeiro parágrafo. É preferível a liberdade criadora anônima, solitária, ao estrelato vigiado das redes? Já a intromissão do algoritmo na preparação, conteúdo, do conto, romance, para que alcance o maior engajamento, militância, e consequente visibilidade do escritor, fica para outro texto.
*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.
