
Conquista pela sedução - Jerônimo de Albuquerque, o "Adão Pernambucano"
12/08/2025 -
Por Zé da Flauta*
Vemos na história, que os grandes impérios se constroem com espadas, mas Jerônimo de Albuquerque preferia usar outros instrumentos mais sutis, um olhar firme, uma rede armada sob as estrelas e uma língua treinada tanto em tupi quanto em suspiros. No século XVI, enquanto muitos portugueses batiam em retirada diante dos perigos do mato fechado, Jerônimo avançava. Mas não era a pólvora que o movia, era o amor. Ou pelo menos algo que se confundia com ele em noites quentes de lua cheia. O homem não fundava apenas vilas, fundava famílias. Dezenas. Centenas. Quem sabe até um pequeno país.
Ao vento
Não era um libertino qualquer. Havia método no seu desejo. Para cada tribo aliada, uma esposa. Para cada negociação de paz, uma promessa sob o lençol de palha. A colonização, com Jerônimo, se dava pelo afeto... ou pelo suor. Enquanto outros arrancavam o que podiam da terra, ele preferia plantar gente. E como plantava. Filhos brotavam em tudo quanto era canto, e hoje não seria exagero dizer que há mais descendentes de Jerônimo do que de Pedro Álvares Cabral. Se o Brasil é mestiço, mestiçagem tem nome e sobrenome e andava a cavalo com os cabelos ao vento.
Encantamento
Mas há quem torça o nariz. “Mulherengo!”, gritam os moralistas de gabinete, esquecendo que Jerônimo viveu antes do Instagram, quando compromisso era olho no olho e a palavra valia mais do que um contrato assinado. Ele não mentia, prometia. Não fugia, sumia por um tempo. Havia nele uma ética do encantamento, uma filosofia da convivência, uma diplomacia do desejo. E quem sabe seja por isso que seu nome não aparece nos livros didáticos com a pompa que merece. A história não gosta de homens que seduzem com o coração. Prefere os que impõem com canhões.
Afeto estratégico
Jerônimo não foi só o grande conquistador de mulheres do século XVI, foi o grande misturador de mundos, o amante da floresta, o diplomata da rede, um verdadeiro mestre do afeto estratégico.. Sua vida nos obriga a repensar o que é poder, o que é conquista, e até mesmo o que é amor. No fim das contas, talvez seja ele quem melhor representou o Brasil que viria, confuso, ardente, miscigenado, incontrolável, apaixonado e cheio de filhos espalhados por todos os cantos. E cá entre nós, se existe algum céu para os que viveram intensamente... com certeza tem uma rede armada lá esperando por ele.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor e escritor.
NR - Os textos assinados expressam opiniões e visões dos seus autores.
