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Artigo – O que esperar do encontro de Trump e Putin no Alaska?

14/08/2025 -

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Por Ricardo Rodrigues*

Amanhã, todas as atenções estarão voltadas para a reunião de cúpula entre Donald Trump e Vladimir Putin, no Alaska, destinada a negociar a paz ou um cessar-fogo permanente para a guerra na Ucrânia. A última vez que uma empreitada dessa natureza foi protagonizada por Trump, com a ida à Casa Branca do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a negociação terminou em fiasco. O que deveria ter sido um encontro festivo entre Trump e Zelensky descambou em um bate-boca vergonhoso, transformando-se em um verdadeiro desastre diplomático.
Agora, as negociações acontecem com o presidente da Rússia em duas rodadas. A primeira, amanhã, em território americano, no Alaska, e posteriormente, em local e data a serem definidos, em território russo. Tudo arranjado, diga-se de passagem, muito rapidamente.

Por que Putin topou?

Primeiramente, o presidente russo chega à mesa de negociação com Trump em uma posição de vantagem no conflito. Para usar o jargão do próprio Donald Trump, Putin chega com “cartas”. As mais recentes análises do conflito dão conta de que os russos estão derrotando as forças militares ucranianas no campo de batalha. De acordo com analistas, as forças militares ucranianas vêm entrando em colapso, com o avanço das tropas russas, numericamente superiores, no leste da Ucrânia. Para tais analistas, a situação no front é tão crítica para os ucranianos que pode ensejar a tomada, pelos russos, de território na região central do país, para além das quatro “oblasts”, ou províncias, que já foram, para todos os efeitos, anexadas pela Rússia. Como bem afirmou Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria, “a Rússia já ganhou a guerra”.
Em segundo lugar, Putin deseja evitar que novas sanções econômicas sejam aplicadas à Rússia e que sanções secundárias venham a ser impostas a seus principais parceiros comerciais. A Rússia conseguiu sobreviver bem às sanções impostas pelo Ocidente até aqui. E não foram sanções triviais. Segundo matéria do The New York Times, as sanções contra a Rússia foram as mais duras da história. Contudo, a economia russa continuou crescendo, suas vendas de petróleo e gás continuaram firmes a despeito do esforço do Ocidente em obstruí-las. Assim, a Rússia conseguiu financiar seu esforço de guerra. Como a imposição de sanções secundárias pode mudar o atual panorama, faz sentido para Putin negociar o fim da guerra.
Por fim, Putin deseja reatar as relações da Rússia com os Estados Unidos. Isso, pelo menos, é o que afirmou Sergei Ryabkov, vice-ministro das relações exteriores da Rússia, para o jornal Izvestia. Segundo ele, “o encontro dos dois presidentes pode impulsionar a normalização das nossas relações bilaterais”, permitindo, inclusive, a volta de voos diretos entre os dois países.

A aposta de Trump na diplomacia transacional

Para Trump, a reunião de cúpula apresenta-se como uma oportunidade ideal para dar a volta por cima do fiasco com Zelenski, negociando primeiramente com Putin para depois encaminhar uma proposta ao presidente da Ucrânia. Como Trump disse reiteradamente, negociar é o que ele mais sabe fazer. E é isso que ele pretende levar adiante em seu encontro com Putin. Para a imprensa, Trump já adiantou que sua proposta de negociação contempla permutas de território conquistado durante o conflito. Talvez até traga de volta à mesa de negociação a “carta” da concessão para empresas americanas explorarem minerais críticos na Ucrânia.
Uma coisa é certa, Trump chega ao Alaska embalado pelo êxito de sua intermediação do fim do conflito entre Armenia e Azerbaijão. Cabe lembrar que as guerras intermitentes entre esses dois países vizinhos do Cáucaso já duravam 35 anos.

O fim do conflito entre Armenia e Azerbaijão

A negociação entre os dois países mediada por Trump foi essencialmente fruto de sua diplomacia transacional. O ponto fulcral da negociação foi, certamente, a proposta de Trump de garantir para os Estados Unidos a concessão, por 99 anos, da estreita faixa de terra no sul da Armenia que faz fronteira com o Irã. Conhecida como o Corredor Zangezur, trata-se de uma trilha que permite o acesso do Azerbaijão ao seu enclave em Nakhichevan e à Turquia. A saída proposta por Trump agradou tanto o presidente da Armenia quanto o líder do Azerbaijão, até porque ambos desejavam uma maior aproximação com os Estados Unidos.
Do ponto de vista geopolítico, Trump marcou um gol de placa. A presença americana na região, bem na fronteira com o Irã, tende a mexer com o equilíbrio de forças naquela parte do planeta. Os líderes da Turquia e de Israel mal podiam esconder o sorriso. O Presidente da Turquia, Erdogan, foi o primeiro a cumprimentar Trump pelo feito, oferecendo o apoio de Ancara ao acordo de paz. Como era de se esperar, a iniciativa desagradou ao Irã e à Rússia. Ali Akbar Velayati, assessor especial do líder supremo do Irã revelou ao jornal Al Jazeera que o país fará de tudo para bloquear o empreendimento. Para ele, “o corredor não será um portão de entrada para os mercenários de Trump”.

A oposição de Zelensky e dos líderes europeus

No caso da guerra na Ucrânia, a negociação não vai ser nada fácil. A Ucrânia e a União Europeia sempre foram firmes em não admitir quaisquer concessões para Putin. Com relação à Rússia, sempre se mostraram adeptos da política do tudo ou nada.
Ontem, Zelensky viajou para Alemanha para participar da videoconferência que o Chanceler Alemão Friedrich Merz havia agendado com Donald Trump. Do lado europeu, além de Merz e Zelensky, participaram vários líderes, incluindo Giorgia Meloni, da Itália. Do lado americano, estiveram presentes o próprio Trump e o vice-presidente J. D. Vance.
Segundo Merz e Zelensky, Trump teria concordado com alguns princípios que os europeus alinhavaram para a negociação com Putin. Entre esses, a presença da Ucrânia em qualquer futura negociação e a não negociação de quaisquer termos de paz, tais como permutas de território, antes de um cessar-fogo. Além disso, os europeus disseram que a Ucrânia poderia até discutir a cessão de algum território, mas não o reconhecimento legal de território ocupado pela Rússia. Eles também insistiram no direito de a Ucrânia torna-se membro da OTAN em futuro próximo.

As opções de Trump

Se aquiescer aos princípios determinados pelos líderes europeus, Trump terá muito pouco espaço de manobra, o que inviabilizará sua diplomacia transacional. Nesse caso, a iniciativa poderá redundar em fracasso e a carnificina continuará nos campos de batalha na Ucrânia.
Segundo um alto funcionário do governo americano que acompanhou a videoconferência, Trump reiterou que toda e qualquer decisão referente a permuta de território caberia à Ucrânia tomar, não a ele. De fato, não creio que Trump estivesse cogitando ultimar qualquer negociação sem a Ucrânia. Sua ideia era conversar com uma das partes do conflito, depois com a outra, pavimentando uma negociação que viria apenas quando as duas partes chegassem a um acordo.
Se essa primeira reunião fracassar, sequer haverá uma segunda. Neste caso, restará a Donald Trump duas alternativas. Ele poderá cumprir com suas ameaças e aplicar mais sanções contra a Rússia, penalizando também os seus parceiros comerciais. Ou poderá lavar as mãos, admitindo que fez o que pode para encerrar a “guerra de Biden”, mas que, doravante, deixará o assunto para ser resolvido pelos aliados europeus. Seja qual for a opção escolhida, saindo o tiro pela culatra, a política externa dos Estados Unidos sofrerá com consequências adversas.

*Ricardo Rodrigues é jornalista e cientista político. Ele escreve sobre política internacional para O Poder.

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