
Artigo - Mulheres na luta pela liberdade e emancipação de todos, por Gau Silva e Natanael Sarmento*
15/08/2025 -
A dominação de classe no plano subjetivo-ideológico se processa através de aparatos formativos e informativos na inversão do real com as omissões e manipulações classistas que moldam valores e deformam consciências. Dominante no capitalismo a burguesia cria as suas “arapucas ideológicas” diversionistas quais igualdades formais liberais, sem adentrar na raiz ou materialidade, nas causas das desigualdades entre pobres e ricos, homens e mulheres e outros na sociedade burguesa hierarquizada.

Qual feminismo?
Em meados do século XX, os EUA fabricaram o contrabando liberal típico hollywoodiano vendido como “revolução feminina” chamado “Movimento Feminista”. Feminismo de aparências, limitado, ardilosa falsificação da histórica luta de emancipação das mulheres na história. Apenas no plano retórico avocam a história de lutas das “sufragistas” e “abolicionistas” do século XIX. E omitem por completo o salto qualitativo das conquistas femininas da revolução socialista na Rússia. Com o triunfo da revolução bolchevique que transmudou questões teóricas da cidadania, direitos iguais e igualdade social entre homens e mulheres questão histórica, de prática social.

Conquistas da revolução socialista
A destacada comunista Alexandra Kollontai contribuiu teórica e praticamente para elevar o nível de consciência dos revolucionários bolcheviques, na perspectiva do universo feminino. A primeira revolução dos trabalhadores explorados e oprimidos do mundo quebrou dominações econômicas, políticas e culturais. Especificamente em relação às conquistas femininas representam o maior avanço da história humana. Rompendo tradições reacionárias da autocracia czarista e da herança patriarcal de tradições orientais, islâmicas, do catolicismo ortodoxo e de outras culturas naquele vasto território de muitas nacionalidades. A revolução assegurou a igualdade de direito ao trabalho e salário, das aeronautas às mulheres que realizavam as tarefas mais simples; o direito ao divórcio e ao aborto e igualdade política em todas as instâncias de decisão e poder. Obviamente, tais conquistas expressavam as lutas das mulheres classistas contra os exploradores burgueses e sua herança cultural patriarcal, impulsionando os avanços de uma sociedade socialista mais justa, em construção.
União Feminista Brasileira – UFB
Em nosso país, a primeira organização nacional de mulheres de lutas por direitos foi a União Feminina Brasileira – UFB, fundada em março de 1935. Vida curta. Considerada subversiva foi fechada por Decreto de Getúlio Vargas, em menos de três meses. Qual a “subversão” da UFB? Pautava a luta feminina pela igualdade salarial; direito à licença-maternidade; direito ao divórcio e à guarda dos filhos. As comunistas estavam na vanguarda dessa organização fundada por Amélia Reginaldo, Armanda Alberto e Maria Werneck de Castro, entre outras.

Mulheres “sob a aleluia da liberdade” na revolução da ANL/PCB
Na historiografia das oligarquias a memorável revolução da ANL/PCB de 1935 é caluniada. Os comunistas renegados a esqueceram. Os traidores da luta do proletariado a desqualificam. Um dos momentos mais marcantes da luta de classes no país. Do povo, portuários, mecânicos, camponeses, estudantes, homens e mulheres em armas, numa revolução orgânica, com programa, na guerrilha camponesa e na conquista do poder em várias cidades. No RN o movimento tomou a Capital e 2/3 dos municípios, por três dias. O movimento revolucionário destituiu o governador das oligarquias Rafael Fernandes. Assume o poder a Junta Governativa Provisória aclamada em praça pública coordenada pelo sapateiro José Praxedes. Pouco tempo no poder, porém suficiente para baixar o preço do pão, distribuir alimentos com a população pobre, zerar a tarifa do transporte de bondes; expropriar o Banco do Brasil e enviar as 3 colunas que interiorizaram a revolução. E o movimento guerrilheiro do Vale do Assú começou em agosto de 1935 e só acabou no ano seguinte. Você já parou para pensar por que tão poucos conhecem esta história?
A expressiva participação de mulheres na revolução nacional libertadora de 1935 corresponde a 42% dos denunciados no Tribunal de Segurança Nacional de Getúlio. A matemática simples demente a versão da “quartelada”, mulheres não prestavam serviço militar na época.
No libelo do procurador “com fardas militares e armas pesadas, Amélia Gomes Reginaldo, Luíza Gomes dos Santos, Leonila Félix, Chica Pinote e Chica Gaveta participaram da tomada do 21º Batalhão de Caçadores do Exército”.
Amélia Reginaldo nos seus 16, ativa militante, secretária de célula, pegou em armas e ajudou a editar o jornal o órgão oficial do governo popular revolucionário A Liberdade.
Internacionalismo
A revolução de 1935 teve a assistência de quadros da 3ª Internacional, entre os quais valorosas comunistas mulheres. Jugulado o movimento, foram satanizadas e deportadas. Algumas entregues à Gestapo caso de Olga Benário (grávida de 3 meses) e assassinada na câmara de gás de campo de concentração nazista e Elise Saboroswski. A argentina Carmen Guoldi também deportada, todas consideradas “nocivas aos interesses do país”.
As classes dominantes e militares com Getúlio Vargas à frente implantam o regime de terror anticomunista do Estado Novo em novembro de 1937 até 1945.
Federação Democrática Internacional de Mulheres
Exerceu papel fundamental na articulação mundial da luta feminina. Na Comissão Latino-Americana da FDMI Ana Montenegro, comunista, advogada, formada em letras, jornalista revolucionária - editou por mais de uma década o periódico “Movimento Feminino”. Essa guerreira, 1ª exilada do golpe de 1964 retorna ao Brasil 15 anos depois e continua sua luta até o fim da vida. No opúsculo “Ser ou Não Ser Feminista” baseada nos escritos de Kollontai combate o feminismo esvaziado da luta de classes e defende posições emancipadoras da mulher no exato lugar da história humana, que é história da lutas de classes, dos explorados e oprimidos contra todos os exploradores e opressores, incluindo a erradicação completa dos preconceitos e atitudes machistas legados pela propriedade privada e divisão social do trabalho que subjuga mormente as mulheres.
Mulheres contra a Ditadura – 1964/1985
É falsificação ou reducionismo o perfil traçado das mulheres combatentes e vítimas da repressão ditatorial como “jovens, estudantes”. Mulheres das classes proletárias e periferias das cidades, milhares de indígenas exterminadas não constam de relatórios oficiais. Sem considerar a violência contra familiares de militantes, mães, esposas, filhas. 51 mulheres foram assassinadas ou desaparecidas nos porões do regime fascista, pelos dados levantados no Relatório da Comissão Nacional da Verdade. Um trabalho hercúleo, porém inconcluso e que precisa ter continuidade. Para que nunca se esqueça e para que nunca mais aconteça.
*Gau Silva, é médica. Do Movimento de Mulheres Olga Benário. Natanael Sarmento é professor e escritor. Do Diretório Nacional do partido Unidade Popular - UP.
NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores. O Poder estimula e acolhe a diversidade e o livre debate de ideias.

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