Sandália Artesanal

Certa vez, ouvira de um amigo que esteve pela primeira vez, ainda muito jovem, numa audiência judicial. No momento do interrogatório, ficou nervoso, vendo aquela mulher de toga, de austera atmosfera jurídica. Teve dificuldade de recordar os fatos, deu o branco diante do pano preto da magistratura. No entanto, observou o calçado, ao invés do sisudo sapato esperado, uma sandália artesanal de couro cru quebrara o severo iceberg. Meu amigo relaxou, disse pra si mesmo: "Ela é gente feito a gente".

O Humano se Revela

Lembrei desse amigo, ao ver pela TV, Rayssa Leal - nossa fadinha - voltando à vida normal de adolescente na sua cidade, Imperatriz, MA. Filmaram o retorno às aulas, ao convívio dos colegas e professores, igual a qualquer menina da sua idade. Mas, claro, rodeada de euforia, admiração dos pequenos e adultos na recepção da aluna olímpica. Todavia, longe dos treinos exaustivos, das cobranças, dos holofotes publicitários, das luzes da ribalta, longe dos rituais que celebram o pódio, a fama, o humano se revela no couro cru da vida, com todas as suas virtudes, defeitos, fraquezas. Nos pés da juíza, a sandália crua. Nas mãos de Rayssa, o caderno, o colégio, a vontade de tocar no simples cotidiano. Sim, elas são gente feito a gente.


*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.