
É Findi – Bairro de Brasília Teimosa, por Carlos Bezerra Cavalcanti*
16/08/2025 -
Muitos locais ou monumentos têm seus nomes vinculados a fatos ou pessoas e coisas distantes de onde se encontram. O caso dessa localidade, não é diferente, deve seu nome à longínqua Capital Federal, que vivia, na década de 50, ocupando os noticiários e as conversas populares, Brasília, ou a “Nova Capi” de Juscelino Kubsticheck de Oliveira.
Na área, surgida do areal, iria ser construído um aeroporto, posteriormente se pensou em instalar ali, um campo de tancagem idêntico ao do Brum, que seria então desativado, mas os depósitos de combustíveis não vieram. O terreno ficou em litígio, sendo reivindicado Por várias instituições e pessoas entre elas a Federação de Caça e Pesca.
Nesse ínterim, o local foi parcialmente invadido. Os invasores receberam admoestações, mas, teimosamente, permaneceram na área. A criatividade popular passou a chamar a invasão de Brasília Teimosa.
Segundo Jaques Cerqueira (D.P. de 7 de Fevereiro de 1988) "Caso o projeto de construção do Aeroporto do Recife, de auto-ria do Engenheiro Moraes Rego, datado de 1934, estivesse dentro dos padrões internacionais de avaliação, certamente Brasília Teimosa não existiria hoje. Isso porque o aterro que deu lugar ao popular bairro litorâneo foi feito para servir de pistas de pouso e decolagem de aviões comerciais. Acontece que o projeto deu errado e o Areal Novo, como o aterro era conhecido na época, foi invadido, precisamente, em 15 de fevereiro de 1958".
De acordo com Charles Joseph Fortin, estudioso no assunto: "As causas que levaram o projeto de Moraes Rego ao fracasso, teriam sido três:
1ª Os trabalhos de dragagem de um canal anterior dos arrecifes, foram prejudicados pela quantidade de embarcações ali naufragadas.
2ª Nenhuma das seis pistas projetadas tinha a extensão mínima, padrão de mil metros.
3ª A área não podia ser expandida, futuramente.
Antevendo o fracasso do projeto, o Governador de Pernambuco passou a oferecer material para as obras de construção do Aeroporto do Ibura, cuja implantação atendia aos apelos dos militares e às pressões da Air France, que queria operar sua linha regular, ligando Paris ao Recife".
Esvaziados seus planos de construir o Aeroporto do Recife naquele aterro em julho de 1937, decidiu Moraes Rego voltar à carga e apresentar um projeto de melhoramentos, para receber os tanques de combustíveis do Brum.
Dois anos após ter tornado pública sua idéia, Moraes Rego viu romper um grande incêndio no terminal do Brum, o que demonstrava a precariedade da segurança dos tanques. Mas, como a execução das obras, no areal novo, exigiram engenharia pesada e grandes investimentos, além de alastrarem-se os combates da II Guerra.
"Entre 1937/51, a única preocupação do terreno ficava por conta de algumas casas na entrada do aterro.

A forma de loteamento promovida em 1957, pelo pescador Francisco Alves da Silva, Presidente da Colônia dos Pescadores Z-1, foi a seguinte: "Já haviam cerca de 100 casas erguidas na área e a colônia estava revoltada com a invasão. Diante do quadro, resolveu-se determinar que cada um dos 700 pescadores ligados àquela colônia, receberem 3 terrenos que seriam ocupados, de forma precária, para venderem os dois primeiros lotes e, com o dinheiro apurado na transação, se construíssem casas de alvenaria, de melhor condição.
Os planos, no entanto, não deram certo, apesar do trabalho de um topógrafo contratado pela colônia para fazer o traçado das ruas.
Em 1957, começou a apropriação maciça da área, até o fim de março, 80 novas casas foram erguidas. Em abril, eram mil, em maio, esse número dobrara e outros mil lotes eram ocupados, em Junho, a comunidade reunia cerca de 20 mil pessoas.
... Na época o bairro recém-surgido chamava-se Nova Brasília e só viria mudar o seu nome para Brasília Teimosa, durante a fiscalização tenaz das autoridades, contra o procedimento da ocupação ilegal de outros terrenos".
*Carlos Bezerra Cavalcanti, sócio efetivo e benemérito do IAHGP
