
É Findi - Cíclica Estiagem, poesia, por Lília Gondim*
16/08/2025 -
Triste gente de semiárida vida,
que deixa pra trás casebres,
os seus minguados pertences,
promessas, feitas pros céus,
já muitas vezes cumpridas.
Vagam, em fila, impotentes,
em busca do que foi rio,
outrora, tão caudaloso.
Hoje, o que sobra é um fio
água turva e empoçada,
alento mais que insalubre
pros que conseguem chegar,
caso bicho ou caso homem.
É trágica a estiagem!
Outros de lá já partiram
desde que a roça secou.
Reza nenhuma ajudou!
Mesmo o gado, esfomeado,
murchou e se abandonou
pela terra ressecada,
em largas fendas rachada.
É tétrica a estiagem!
Dos filhos, irmãos, avós,
só restaram as ossadas.
Tudo é fome, sede, morte...
Vão-se em busca de outro norte,
das terras sempre orvalhadas,
quiçá vida de mais sorte!
A chuva os trará de volta,
não há mais desesperança!
E nas noites invernais
cantarão outras novenas,
farão novas louvações
e puxarão “incelênças”
lembrando dos que ficaram
nessa árdua caminhada.
Trabalharão confiantes
na força da sua enxada
e no seu amor ao rio,
novamente tão crescido,
burburinhando entre as pedras.
No fundo calam a certeza
de que muitas outras vezes,
como o fizeram seus pais
e, antes, os seus avós,
trilharão a atroz jornada.
Partirão pra outros cantos
sempre que o sol teimoso,
inclemente e abrasante,
desafiando os seus santos,
expulsar da terra a chuva.
*Lília Gondim, é economista, funcionária pública estadual aposentada, escreve contos, crônicas e poemas.