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É Findi - Renovação - Crônica, por Maria Inês Machado*

16/08/2025 -

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Marília acordara cedo. Na maturidade, aprendera a organizar a agenda, sempre cheia de atividades que flutuavam entre prazerosas e obrigatórias. Abriu a porta do quarto e caminhou até a varanda. O visual era prazeroso: árvores com ninhos de passarinhos. O verde acalmava a alma.

Naquela manhã, ele pousara na varanda, bebera a água adocicada e voara. O pouso no galho mais baixo da árvore parecera proposital: dali a observação do entorno era mais fácil. Marília acenara de forma carinhosa e entrara. Era rotina. Logo mais, ele voltaria com seus pares.

Arrumou os cabelos longos; gostava de entrelaçá-los e prendê-los com fivela. Fez maquiagem leve, deu retoques na face e notou algo diferente na própria imagem. O espelho a olhava de outro jeito. Talvez fosse a luz que entrava pela janela ou, quem sabe, a percepção de que carrega mais peso do que deveria. O café esfria na xícara. A pergunta fica: esta é, de fato, sua melhor versão?

As gavetas do Eu guardavam tralhas, lembranças, medos, angústias e situações mal resolvidas. Algumas não tinham significado, mas ela insistia em conservá-las. Olhou para dentro de si e perguntou: necessário ou supérfluo? Segmento de felicidade ou dispositivo de dor? Bondade saudável ou tóxica?

Tantos questionamentos. Libertar-se não era apenas largar o que doía, mas quebrar correntes para florescer. O importante é não ter medo. Medo emoção básica e protetora, mas não deve ser o cárcere da alma.

Olhou novamente para a varanda e se surpreendeu. O amigo de asas parecia querer conversar. O voo que ele fizera indicava libertação. Ela percebe: esse processo não tem limites, e a decisão é dela.

— Temperatura boa, não, amigo?
— Sim. No meu mundo eu dou o grau da temperatura.
— Qual a cor do teu mundo?
— Variável. Eu dou o tom.
— Peço licença para não o contaminar com as suas queixas.
— São visíveis?
— Descubra. O espelho lhe deu pistas.

Saiu pensativa, tirou os sapatos e olhou para o céu. As nuvens escuras se transformavam em chuva. Deixou que as gotas tocassem o rosto. Agora, cada gota que cai é lavagem da alma. O pranto não é contido. É doce. É renovação.

Esperou a noite. A chuva se retirava, as nuvens borrascas sumiam e a lua surgia radiante. O mar tocava a areia. Água fria, semelhante a indiferença dos imperialistas e totalitaristas, que ditam todas as cartas. Marcadas, sem possibilidade de escolhas. Então surge o livre-arbítrio, imponente. Na individualidade, ele impera. É natural que seja assim.

Nesse percurso de voltas e reboteiros, percebe que a escolha é sua: paralisar ou renovar.

O vento das decisões vem ao seu encontro: enigmático e decisivo. Pode refrescar a alma ou queimar, ressecar nas correntes que aprisionam.

Fugir seria opção desconcertante e patológica. É melhor substituir as armaduras.

Novos horizontes. Novas estações.

Paralisar, jamais. A fênix renasce das cinzas e, nesse processo de renascimento, os voos são mais altos, mais amplos e mais livres.


*Maria Inês Machado é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e em Intervenção Psicossocial à família. Possui formação em contação de histórias pela FAFIRE e pelo Espaço Zumbaiar. Gosta de escrever contos que retratam os recortes da vida. Autora do livro infantojuvenil 'A Cidade das Flores'.

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