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Leonardo Cavalcanti, Castro Alves e o olho do catedrático na bunda da aluna

16/08/2025 -

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Por Natanael Sarmento*

O poeta, comunista e procurador Leonardo Trindade Cavalcanti, potiguar, formou-se na Faculdade de Direito do Recife. Em 1973. O saudoso amigo, partiu cedo. Era achegado à boemia e após as torturas nos porões da ditadura, no próprio ano de 1973, talvez por desacreditar na salvação da espécie, descambou no alcoolismo e niilismo. Pena, mas foi assim.

Figura humana extraordinária, em suas qualidades e defeitos, deixou legiões de afetos e desafetos. Estou entre os primeiros.
A vetusta faculdade de direito recifense tem salas em forma de anfiteatros. Os assentos em planos inclinados, primeiros no plano do solo; últimos, mais altos, quais antigas arenas.

Certo professor analisava o incidente diplomático chamado “Guerra da lagosta” entre Brasil e França (1961/3) à luz da Convenção de Genebra. Os franceses consideravam o crustáceo peixe, porque se movia aos saltos. O Ministro da Marinha brasileira contestava essa lógica: “se lagosta é peixe porque salta devemos considerar o canguru uma ave”.

Justamente neste impasse de alta indagação do direito público internacional uma efeméride roubaria a cena do espetáculo. Na última fila estava a belíssima “X”, morena estonteante. A belíssima moçoila motivava suspiros sem respeito aos limites territoriais da convenção da minissaia. Essa musa que açulava o nacionalismo em defesa da plataforma continental brasileira, se levanta no meio da aula. Silêncio.
O catedrático, tipo prolixo, atrapalhado, notório áulico da ditadura, tentava imitar com as mãos os saltos da lagosta na plataforma. Eis que “X” saltando da cadeira, navegava, tranquilamente rumo à saída da sala, indiferente às crises, internacionais e locais.

O emérito, desfocado ante a passagem da nau das tormentas , esqueceu-se do fio da meada. Seu olhar perdido nas profundezas do mar oceânico.
O querido amigo Leonardo não deixou por menos. Rascunhou na hora e passou o papelzinho que circulou na sala. Com as estrofes de Navios Negreiros de Castro Alves entre aspas, obviamente:

“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós Senhor Deus!
Se é loucura...se é verdade!
Tanto horror perante os céus!
Um mestre em aula fecunda
Perdido olhando pra bunda
De uma aluna que desceu!".

*Natanael Sarmento é professor e escritor. Do diretório Nacional da UP.

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NR - O Poder confirma as afirmações de Natanael e acrescenta: o talento incrível de Leonardo nunca se recuperou das torturas. Apesar de publicar vários livros brilhantes de poesia mais adiante, a tortura apagou algo na sua alma sensível.

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