O passaporte do Pastor Silas Malafaia foi apreendido e ele está em maus lençóis perante a justiça brasileira. Para muitos, a participação de um religioso na política é surpreendente, mas a história nacional sempre andou de mãos dadas com a religião. Não fosse a primeira cerimônia oficial do Brasil uma missa. Não fossem nossos primeiros professores, os jesuítas Anchieta e Nóbrega. E nosso primeiro grande escritor, o Padre Vieira.

 
Roma e Caneca
 
Abreu e Lima foi ordenado em Roma, virou Padre Roma e saiu libertando as Américas entre filhos e fuzis. Mais ou menos como Frei Caneca, o qual viajou por estas bandas mesmo, mas fez também da revolução seu evangelho. Ambos imortais.
 
Cícero
 
Padre Cícero reescreveu a história do Ceará e do Brasil. Em torno de si, uma multidão de miseráveis e jagunços construiu uma cidade de Juazeiro tão inquietante para o governo quanto Canudos. Cícero foi o Conselheiro que não pôde ser derrotado. Faltou apenas um Euclides da Cunha para traçar sua saga.




 
H2
 
Dom Helder e o Padre Henrique foram uma dor de cabeça inimaginável para a ditadura militar. Antes mil ateus na guerrilha do que um sermão daquele cearense aparentemente frágil, singelo, enviado para Recife justamente na primeira semana do golpe militar de 1964. Como não podiam alvejar Dom Helder, crucificaram o Padre Henrique.
 
Sobel e Arns
 
O rabino Henry Sobel enfrentou os militares de peito aberto. Suicídio nunca. Tortura e assassinato, sim. No instante mais perigoso dos anos 1970, o rabino foi o olhar do Deus sobre fardas e coturnos. O antigo testamento de mãos dadas com o novo de Paulo Evaristo Arns.




 
Silas
 
O bom ladrão que virou santo e pastor está nas garras da justiça e dos lobos. Longe de mim, mas muito longe, comparar Silas Malafaia com alguns dos craques acima. Silas entra nesse jogo muito mais pelo destino unindo religião e política. Fé e Maquiavel. Transcendência e jurisprudência. Eleitores e fiéis. Talvez porque política virou dogma e religião virou política no Brasil no qual odiar o próximo virou o décimo primeiro mandamento.
 
Roberto Vieira é médico e cronista.
 
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