
Ficamos Mais Pobres? - Crônica, por Emanuel Silva*
22/08/2025 -
“PIB per Capita: A Fantasia Acabou, a Conta Chegou”
Em 2011, o PIB per capita do Brasil era de US$ 13.400. Em 2024, segundo estimativas recentes, esse número caiu para US$10.340.
Parece que o tempo de “país emergente da vez” ficou mesmo no passado.
Naquela época, o real brilhava nas capas da The Economist e Brasília ensaiava discursos para liderar o G20.
Hoje, lideramos outro ranking: o dos que tropeçaram na escada e ainda tentam fingir elegância.
Mas sempre aparece o militante econômico perguntando: “Mas você gasta em dólar?”
Uma tentativa tosca de encerrar a discussão. Bem que poderia retrucar: “Mostra qual a marca do teu celular? É BRBras?
A verdade é que o autoengano do “vivemos em reais” só convence até a página dois.
Vivemos num mundo em que quase tudo é precificado em dólar: soja, petróleo, fertilizantes, semicondutores, vacinas — e, claro, os sonhos do futuro.
A ladainha de que “nossos preços são em reais” é útil para justificar políticas medíocres, mas inútil na prática. Num mundo globalizado, quase tudo relevante é importado, dolarizado ou influenciado pelo câmbio.
Um saco de cimento, dois mundos
Imaginemos dois trabalhadores da construção civil. Um mora em Abreu e Lima, pega ônibus lotado ou uma moto e ao final do mês ganha em média R$ 2.500 por mês (cerca de US$ 500 em 2024).
O outro vive em Kansas City, nos EUA, vai trabalhar em carro automático e com ar-condicionado, ganha por hora e pode recebe US$ 4.000 por mês (quase R$ 20.000, com o câmbio a R$ 5,00).
Ambos medem produtividade em metros quadrados, mas um compra o que precisa com facilidade, enquanto o outro parcela até o capacete de proteção.
E, claro, sempre aparece o defensor do “pensamento positivo econômico” — geralmente da velha mídia, com a língua presa entre patrocínios — exaltando que os “ganhos em reais” são o que importa. A ironia? Quase todos eles se deleitam com cartões black e viagens pagas em... dólar.
Ora, Ora, experimente comprar um smartphone para fotografar a Torre de Pisa ou uma garrafa de champanhe importado com esse seu raciocínio caro pensador. Ou vá até a farmácia buscar um medicamento de referência que não entrou no protocolo do SUS.
A mágica da desvalorização será visível sem lente aumentada.

Os dados e os gráficos não mentem (embora tentem escondê-los)
Para os céticos, áulicos do mandatário e fãs do festival de besteirol econômico transmitido em telas planas seria interessante verificar os dados, como os dispostos pelo Banco Mundial – https://datos.bancomundial.org:
Brasil – PIB per capita (nominal em US$)
• 2011: US$ 13.400
• 2024: US$ 10.340
• Queda de 23%
Estados Unidos – PIB per capita (nominal em US$)
• 2011: US$ 49.000
• 2024: US$ 85.700
• Crescimento de 75%
Sim, em 2011, o americano produzia 3,6 vezes mais riqueza per capita que o brasileiro.
Em 2024, essa diferença subiu para 8,3 vezes.
O resultado é que o trabalhador brasileiro precisa trabalhar mais do que o dobro para comprar o que um americano adquire com um único salário.
E não estamos falando de viagens à Disney. Estamos falando de equipamentos eletrônicos, ferramentas de trabalho, fertilizantes, combustíveis e medicamentos.
Conclusão: Espelho, espelho meu...
A desvalorização do real não é só um número no câmbio. É um espelho torto que revela a decadência silenciosa que está fora dos discursos sobre um país que já não existe.
A comparação com os EUA é didática: Temos menos poder de compra, baixa produtividade e um sonho cada vez mais caro.
Sim, ficamos mais pobres. E o mais trágico: não foi por uma crise cambial, nem por uma guerra — mas por pura inércia década após década que assistimos em câmara lenta.
Pós-escrito para os alienados de iPhone:
Achou que podia parcelar o iPhone em 12 vezes de R$ 1.500 (quase um salário mínimo) e seguir feliz?
Pois saiba: Se resolver importar da China, terá imposto dobrado, taxa do “remédio fiscal”, e a bênção dos paladinos da moral alheia dizendo: — “É para o seu bem.” — “Consumir muito faz mal ao meio ambiente.”
Mas claro... isso só vale para os pagadores de impostos.
Porque para o mandatário e sua tropa, o cartão black sem limite segue garantido, abastecendo copos de uísque importado — com gelo da Groenlândia e nota fiscal da Dinamarca. Em dólar, claro.
*Emanuel Silva, é Professor e Cronista
**Os artigos assinados expressam a opinião dos seus autores e não refletem necessariamente a linha editorial de O Poder.
