
Passarinhos de Fogo - Crônica, por Romero Falcão*
22/08/2025 -
Cena Poética
Dois Bem-te-vis - provavelmente um casal - quase todos os dias me visitam. Começam pelo galho do pinheiro, depois pousam sobre a telha, sacodem as asas, exibem o papo amarelo sob o sol. Brincam de voar baixinho, atravessam o terraço, parecem íntimos destes olhos velhos. A cena poética se transforma em preocupação, quando decidem voar pra cerca elétrica. Fazem da haste, poleiro. Deixam este cronista aflito. Ufa! Alçam voo, somem no clarão da manhã.

Humanidade Anestesiada
Ligo a TV, passarinhos de fogo - drones - correm o céu da Ucrânia. O pássaro tecnológico explode vidas num horror normalizado. O olhar do mundo, o meu, o seu, leitor, se acostumou? Ao invés de indignação, acomodação? Estas indagações me atormentam, como se minha humanidade estivesse anestesiada. Gaza é outra geografia de massacre, mortandade, fome, ante os líderes mundiais. De certa forma, Gaza está no Rio de Janeiro. Aqui, ali, no feminicídio o ano inteiro.

Feito Míssil na Consciência
Observo que os filmes de guerra me comovem. As atrocidades, os tormentos físicos e psicológicos dos bombardeios contados pelo cinema rasgam o coração muito mais que transmitidos ao vivo pela tela na sala de estar. Será preciso a lente da sétima arte para transformar o banho de sangue em Gaza e na Ucrânia numa ficha que cai feito míssil na consciência dos arquitetos de campos de batalha, cuja paisagem da destruição vira medalha no peito?
*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.
