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É Findi - Canta, Canta, Minha Gente! - Crônica, por Maria José Morais*

23/08/2025 -

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Por volta dos meus 10 ou 11 anos, no colégio onde estudava, tinha aula de Educação Artística e uma vez no mês, a aula era sob a forma de um grêmio recreativo. Os alunos ensaiavam previamente algum número artístico para apresentação e que valia ganhar nota também.

Eu escolhia sempre cantar. Não que tivesse voz para isso, mas dava-me um prazer grande soltar a voz. Não devia ser tão ruim assim, porque sempre os colegas e a professora gostavam.

Lembro bem que numa época em que a Rádio Difusora de Garanhuns (situada na Av. Rui Barbosa) tinha um programa de auditório aos sábados à tarde. Chamava-se “Variedades” e era apresentado por Sólon Gomes, conhecido locutor da rádio. Fui inscrita para cantar. Os ensaios eram durante a semana, à noite. Ia sempre acompanhada por alguma irmã de maior idade.

E é claro que eu vivia cantando a todo instante em casa, para aprimorar a voz e aprender os trejeitos do artista. Só escolhia músicas da geração MPB (Música Popular Brasileira), pois não queria saber das músicas que eram sucesso do momento. Para mim, valiam muito Elis Regina, Chico Buarque, Mílton Nascimento e outros.

O Que Será?

Assim, escolhi a música “O Que Será?”, do Chico. Uma letra longa, cheia de reflexão, e que aprendi com muito esforço. Ensaiei tanto que não pensava em outra coisa.

A primeira parte da música dizia assim: “O que será, que será? / Que andam suspirando pelas alcovas / Que andam sussurrando em versos e trovas / Que andam combinando no breu das tocas / Que anda nas cabeças anda nas bocas...”

Na Rádio, na hora do ensaio, eu via os outros calouros também cantando, e ia-me dando um nervosismo. Até que chegou o grande dia. Eu usava um vestido longo, de babados, cabelos inteiros soltos, minhas mãos pequenas quase não conseguiam segurar os dois microfones e parecia haver problema de som, quando este pipocava.

Pela cortina, dava para ver que o auditório estava cheio. E a tensão aumentava, o coração batia forte. Eu só tinha enfrentado o “público” da minha sala, nas aulas de grêmio.

Cantei, cantei. No final, dois foram classificados: eu e um menino que cantou “Tranquei a vida”, do galã de olhos verdes, Ronnie Von. Era um grande sucesso nas paradas musicais e todos adoravam essa música. Quem decidia era os aplausos do público. As fortes palmas deram ao rapazote a vitória. E assim, foi pedido para que ele cantasse outra vez: “Tranquei a vida, neste apartamento…”

O “Tranquei A Vida” Não Me Trancou.

Valeu a pequena experiência para uma menina que gostava de cantar. Tempos depois descobri que a música exerce influência direta no estado de ânimo das pessoas. O ato de cantar não reside em impressionar os demais ou receber aplausos, não se trata de ser afinado ou ter ouvido absoluto, nem de ser particularmente competente com a voz e fiel às notas musicais, senão de desfrutar de nossa voz e de compartilhar a experiência com outras pessoas.

Quem já cantou em coro com amigos sabe que é uma das experiências mais agradáveis e satisfatórias que existe, além de ser divertido.

Continuei cantando em casa, para a família, nas festas comemorativas do colégio ou em grupos durante alguma viagem. Cantava para as minhas colegas de faculdade, e nas aulas de Biologia, para que os alunos aprendessem melhor determinado assunto.

Cantar É Uma Alegria

Cantar é muito mais do que uma simples atividade de lazer. Estudos demonstram que cantar regularmente reduz significativamente os níveis de cortisol, indicando uma redução do estresse. Outro estudo diz que os batimentos cardíacos tendem a sincronizar durante sessões de canto em conjunto. E o mais interessante é que você não precisa nem ser um bom cantor para colher os benefícios terapêuticos do canto.

Canto E Demência

Um aspeto particularmente interessante do estudo é a relação entre o canto e a demência. A parte do cérebro onde as canções são armazenadas não é afetada pela demência, permitindo que as pessoas com esta condição recordem músicas aprendidas antes do início da doença. Este fato sublinha a importância de cultivar o hábito de cantar desde cedo na vida.

É por essa razão que cantar faz muito bem para a minha mãe, portadora do Alzheimer. Ela canta com alegria e eu continuo cantando, no chuveiro, quando tenho vontade, sem a preocupação de ter boa voz ou não. É somente para desestressar!

Os ‘Pavarotti’ Da Estrada

Cantar faz tão bem, mesmo para os que cantam muito mal, que os ‘Pavarotti da estrada’ tendem a ser pessoas mais felizes e relaxadas. Distante do Brasil, quando escuto as nossas músicas, solto a voz e canto sem trancar a vida.

E você, também já cantou no carro depois de um longo dia de trabalho, ou ao ouvir sua música favorita, acompanha-a?

Canta, canta, minha gente...!



*Maria José Morais, bióloga, professora, escritora e palestrante. É pernambucana e vive na cidade do Porto, em Portugal.

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