
Maduro no bunker - A praça é o símbolo da legitimidade. O esconderijo, do medo
23/08/2025 -
Por Jorge Henrique de Freitas Pinho*
O ditador venezuelano, ao aparecer em ambiente sombrio convocando milhões de milicianos, não demonstra força — mas medo.
A praça é símbolo da legitimidade; o bunker, da fragilidade. Maduro no Bunker: entre a Praça e o Medo. Algo mais que geográfico, simbólico.
Nicolás Maduro apareceu recentemente em um vídeo transmitido pela imprensa venezuelana em um ambiente fechado, sombrio e claustrofóbico, convocando milhões de milicianos para a “defesa da pátria”.
A cena, longe de transmitir força, revelou fraqueza. O ditador não estava no Palácio Miraflores, nem diante de uma multidão em Caracas, mas escondido como quem teme a praça pública.
Desde a Antiguidade, a política se realiza na praça, espaço aberto onde o governante se expõe ao aplauso e à vaia. A praça é símbolo de legitimidade; o bunker, ao contrário, é símbolo do medo.
Ao falar de dentro de um abrigo, Maduro confessa, ainda que não queira, que já não governa pela confiança, mas pela intimidação.
O recurso às milícias apenas reforça esse traço. O ditador fala em mobilizar 4,5 milhões de civis, não porque disponha de um exército sólido, mas porque precisa de um braço paralelo, doutrinado e dependente, para garantir sua sobrevivência.
O paradoxo é evidente: o povo, em vez de sujeito da política, torna-se escudo humano do regime.
Aqui se revela também o duplo padrão da grande mídia internacional. Quando um governante conservador fala em defesa comunitária, é acusado de paramilitarismo e ameaça à democracia.
Mas quando Maduro convoca milícias famintas, descrevem como “mobilização popular” ou “defesa da pátria”. Essa indulgência seletiva não é neutra — é cumplicidade ideológica.
O tom do discurso tampouco esconde o medo. A constante referência a um inimigo externo, os Estados Unidos, serve de pretexto para a repressão interna, mas denuncia vulnerabilidade real.
Quem confia em sua soberania não precisa teatralizar resistência em um abrigo. Ao se refugiar, Maduro veste a carapuça: o bunker não é apenas local físico, mas metáfora de um poder acuado.
Ainda assim, a propaganda oficial insiste em negar o óbvio, como se a mentira fosse suficiente para sustentar um regime que já não tem legitimidade.
A tirania, contudo, não inova; apenas repete. Mussolini organizou suas camisas negras, Hitler ergueu a SS, e Maduro, em versão miserável, criou suas milícias bolivarianas.
Elas são sustentadas pela chantagem da fome e pela distribuição controlada de cestas básicas. O método é o mesmo: substituir as forças legítimas por tropas paralelas, dependentes e fiéis ao chefe.
E mais uma vez, o silêncio da imprensa é ensurdecedor. Pior ainda, a esquerda procura absolver-se do fracasso rotulando Maduro de “ditador de direita”, como se o bolivarianismo não fosse filho legítimo da cartilha socialista latino-americana.
O bunker é a confissão: medo, isolamento, decadência. Mussolini terminou pendurado em Milão, Hitler consumido em Berlim, Gaddafi arrastado nas ruas de Trípoli, Saddam Hussein enforcado após ser arrancado de seu esconderijo.
Todos tiveram em comum não apenas o fim vergonhoso, mas também o uso de milícias paralelas para sustentar seus regimes — as camisas negras de Mussolini, a SS de Hitler, as legiões mercenárias de Gaddafi, os corpos de repressão de Saddam.
Maduro, em chave tropical e miserável, repete a mesma fórmula com suas milícias bolivarianas. Elas são sustentadas não pela glória de impérios ou pela disciplina industrial, mas pela chantagem da fome e pela distribuição controlada de sacos de comida.
A lógica, porém, é a mesma: intimidar, dividir e governar pelo medo.
E pensar que, diante desse retrato, ainda houve quem, do alto da Presidência do Brasil, ousasse chamá-lo de “um cara bom”.
Se o bunker é o destino dos tiranos, essa frase será lembrada como o epitáfio de uma cumplicidade que a História cobrará não apenas com o peso da vergonha, mas com o riso amargo do ridículo — e como lembrete do que sempre pode acontecer aos que sussurram o autoritarismo.
(*) O autor é advogado, Procurador do Estado aposentado, ex-Procurador-Geral do Estado do Amazonas e membro da Academia de Ciências e Letras Jurídicas do Amazonas.

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