
35 mortos - Tragédia no Parque da Lagoa completa 50 anos esta semana; bombeiro relembra agonia e desespero na capital paraibana
27/08/2025 -
Por Severino Lopes
Um passeio que nunca chegou ao fim. Um dia fatídico. Era o fim da tarde de um domingo, no longínquo dia 24 de agosto de 1975. Crianças e adultos embarcaram em uma balsa militar, que fazia parte das atrações da Semana do Exército, no Parque Solon de Lucena, no Centro de João Pessoa. Era o último passeio da embarcação naquele dia.
A travessia da morte
Com os militares no poder, o Brasil atravessava um dos momentos mais duros do regime ditatorial. O que seria mais uma comemoração alusiva ao Dia do Soldado se transformou em uma das maiores tragédias da Paraíba. Uma travessia da morte

O naufrágio
O passeio começou em clima de comemoração. Horas depois o que se viu foi desespero e morte. Um dos mais tristes da história da capital paraibana ocorrida no período era de Ditadura Militar. Tudo corria normalmente até que a água começou a invadir o barco. A balsa, que deveria suportar até um tanque de guerra, não resistiu: afundou diante dos olhos de uma multidão e deixou 35 mortos, sendo a maioria deles, crianças.
A data do dia fatídico
O naufrágio da balsa que resultou na morte de 35 pessoas na Lagoa do Parque Solon de Lucena, completou esta semana exatos 50 anos. Mesmo tendo se passado tantos anos, as lembranças do fatídico 24 de agosto de 1975 ainda estão vivas na memória dos familiares que perderam os seus entes queridos, e de quem viu de perto o drama de um dos episódios mais tristes, dolorosos e angustiantes da capital paraibana.
As vítimas
Das 35 pessoas perderam a vida durante a travessia da embarcação militar no Parque Solon de Lucena, a maioria crianças.
O presidente
Naquele ano, o País estava sob o comando do presidente Ernesto Geisel, enquanto que a Paraíba era governada por Ernâni Sátiro, que havia sucedido a João Agripino Filho. Foi nesse contexto de celebração do Dia do Soldado, que o então Cabo José Barbosa, foi chamado para atuar no resgate das vítimas da tragédia. O passeio na portada M-2, uma espécie de balsa militar, havia sido inaugurado apenas dois dias antes do naufrágio.

O tenente
50 anos após a tragédia da Lagoa, O Poder localizou um bombeiro que participou dos resgate das vítimas e acompanhou de perto as horas mais dramáticas do Parque Solon de Lucena. Na época, o então cabo José Barbosa da Silva, estava em Campina Grande, quando recebeu um telefonema o convocando para atuar no resgate. Ao todo, morreram 29 adolescentes e 6 adultos, incluindo um sargento do Exército.
Detalhes
Tenente reformado do bombeiro, José Barbosa deu detalhes de toda operação montada para tentar salvar vidas. As lembranças do terrível naufrágio estão vivas na memória do bombeiro.
Único bombeiro de Campina
Mergulhador experiente, ele foi o único bombeiro de Campina Grande a ser convocado para atuar no resgate das vítimas.
Recordou
Na conversa, gravada na rua 13 de Maio em Campina Grande, no cenário de outra tragédia – o acidente do Parque de Diversão que também completou 50 anos - José Barbosa recordou que na época, as pessoas se dirigiram ao Parque Solon de Lucena para acompanhar as festividades do Dia do Soldado.
Preparado
O Exército Brasileiro havia preparado uma exposição de armas, canhões, viaturas, carros de combate, armadilhas de caça e pesca e galeria de fotos pelo Grupamento de Engenharia. Mas a principal atração do evento eram os passeios nas águas da Lagoa a bordo de uma balsa.
“Como eu era nadador, me mandaram buscar para ir para João Pessoa. Saí daqui por volta do acidente foi de 11 horas e cheguei de João Pessoa às 12h40, direto para a Lagoa. Chegando na Lagoa trabalhei no domingo a segunda, na terça foi quando a gente se encerrou. 35 pessoas perderam a vida, 29 adolescentes e 6 adultos, inclusive um segundo sargento do grupamento de engenharia que tentou fazer salvamento. Eles colocaram uma balsa dentro da Lagoa para dar um passeio com a criançada e quem quisesse ir. Eles forneciam lanche, e aí começou. Deram a primeira, segunda e terceira volta, e quando na quarta volta essa balsa que ia com excesso de gente, afundou “, recordou.

Relembra
José Barbosa relembra que o trabalho de socorro e resgate das vítimas foi dramático, visto que os bombeiros tiveram que usar redes para puxar os corpos do fundo da lagoa. A ordem do comando era para só encerrar a operação quando resgatasse a última vítima.
“A gente tirou esse povo não mergulhando, mas jogando as redes como se estivesse pescando” , recorda.
A última viagem
A última viagem da embarcação foi feita no final da tarde. Com capacidade para 60 pessoas, a barca autorizou a entrada de cerca de 200, e o resultado da superlotação, conforme descreveu José Barbosa, foi o naufrágio.
Balsa adaptada
A balsa, adaptada para passeios pela lagoa, não suportou o peso e começou a afundar após avançar cerca de 50 metros. A embarcação, improvisada com duas longas tábuas e utilizada anteriormente para transporte de cargas, começou a afundar lentamente após uma movimentação brusca dos passageiros que estavam a bordo.
Desespero
Muitos passageiros, em desespero, correram para a frente da embarcação, desequilibrando-a ainda mais. Uma onda causada por uma lancha que circulava a lagoa contribuiu para que a água entrasse na balsa, agravando a situação. Naquela noite, o passeio não chegou ao fim.
Fotos da época
Fotos da época mostram multidões nas margens da lagoa, observando o trabalho de resgate. Crianças e adultos se reuniam no gramado do Parque Solon de Lucena, e alguns até se arriscavam em árvores para ter uma visão melhor da ação dos bombeiros.
Estrutura
A embarcação tinha uma estrutura central retangular e pequenos barcos laterais, onde crianças e familiares se acomodavam. Segundo testemunhas, os militares organizavam o embarque, e a balsa realizava um movimento circular pela lagoa durante o passeio.
Poderia ter sido evitado
O acidente, que poderia ter sido evitado com medidas de segurança adequadas, é uma lembrança dolorosa da importância de se prevenir tais tragédias. Hoje, quase 50 anos depois, a Lagoa do Parque Solon de Lucena é um local de lazer para os moradores de João Pessoa, mas a memória do que aconteceu em 1975 permanece como um alerta para que nunca se repita.
O Poder
Fotos: Severino Lopes e Tv Assembleia/Reprodução