
Por que escrevi este livro. Por Flávio Chaves
01/09/2025 -
Escrever não é apenas um ato de escolha; muitas vezes, é um imperativo. Há temas que não nos pedem licença para entrar em nossa vida: eles nos atravessam, nos convocam e nos obrigam a dar-lhes forma. Assim nasceu o livro Sheikha Moza Nasser, Hamlet e o Exílio.
A imagem
A imagem do exílio me persegue há muito tempo. Não apenas o exílio político, que afasta corpos de territórios, mas o exílio interior, que nos distancia de nós mesmos, das nossas verdades e das nossas raízes. Ao mergulhar nas páginas de Shakespeare e encontrar Hamlet debatendo-se entre a dúvida e a ação, percebi o quanto sua angústia dialoga com a condição de tantos que, em nossa época, vivem desterrados em sua própria terra, silenciados em sua própria pátria.
Cruzamento inesperado
Foi nesse cruzamento inesperado que surgiu o impulso criador. Enquanto pesquisava a biografia de Shakespeare, encontrei a trajetória da Sheikha Moza, uma mulher que enfrentou exílios e interdições, mas que soube transformar sua dor em voz, sua condição em força, sua travessia em símbolo. Entre a ficção do príncipe dinamarquês e a realidade de uma mulher árabe, identifiquei um mesmo fio de dor e resistência.
O livro
O livro não pretende ser apenas uma narrativa literária. Ele é, sobretudo, um convite à reflexão. É um chamado para que compreendamos que a condição do exílio não pertence apenas ao outro, ao estrangeiro distante, mas pode habitar também em cada um de nós, quando somos privados de voz, de justiça, de lugar.
Literatura
Escrevi este livro porque acredito que a literatura tem o poder de iluminar as zonas de sombra da nossa história e de nossa condição humana. Escrevi porque precisamos falar de poder, de memória, de resistência e de pertencimento em um tempo em que tantas formas de exclusão tentam calar consciências.
Transforma
Sei que um livro, por si só, não transforma o mundo. Mas sei também que cada página pode ser uma semente. E é por isso que este projeto vai além da publicação: ele deseja chegar às bibliotecas, às escolas, aos espaços onde ainda há silêncio. Deseja que cada jovem leitor encontre nessas páginas um espelho ou uma janela, e que cada professor veja nelas um recurso de esperança.
Escrevi Sheikha Moza Nasser, Hamlet e o Exílio porque não poderia fazer outra coisa. Porque o silêncio seria uma renúncia. Porque a palavra, quando verdadeira, pode atravessar fronteiras, unir tempos e acender consciências.
E porque, no fundo, todo escritor escreve para não estar sozinho em seu exílio.
Flávio Chaves é Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Foi Delegado Federal/Minc
