
Frevo não morre - compositor se levanta durante próprio velório
02/09/2025 -
Por Zé da Flauta
Belo Jardim já viu muita coisa estranha nos carnavais, mas nada se compara ao dia em que o frevo quase perdeu um de seus mestres… e recuperou na mesma hora. Levino Ferreira, compositor genial, foi dado como morto depois de uma crise de catalepsia. O corpo foi preparado, o caixão aberto, os amigos enlutados, o choro cortando o silêncio da sala. A cidade se despedia de um gigante da música, sem saber que o espetáculo ainda tinha um bis.
Susto
No meio do velório, quando o clima estava mais pesado que tuba em contratempo, eis que o "defunto" mexe um dedo, abre os olhos e se senta como quem desperta de um cochilo. O silêncio virou grito, e todo mundo saiu na carreira. Teve gente que largou vela acesa no chão, outro derrubou o pé do caixão, uma senhora jurou ter visto a alma dele sair e voltar. A cena parecia mais um bloco de terror do que de carnaval.
Apelido
Levino, atônito, sem entender por que todos fugiam, ficou sozinho no caixão. Aí caiu na gargalhada. O homem que fazia o frevo levantar multidões agora fazia multidão correr como se fosse o próprio cão. A notícia se espalhou mais rápido que batida de surdo: o Mestre estava vivo, vivíssimo. E assim nasceu o apelido que nunca mais o abandonou, Mestre Vivo.
Outra vez
E que ironia maravilhosa, o compositor de “Último Dia” e “Lágrimas de Folião”, que foi dado como morto acabou eternizado pela vida. Sua música segue desfilando nos carnavais, como se cada nota fosse também uma lembrança daquele velório interrompido. O Recife aprendeu com Levino que o frevo não morre nunca, porque até quando deita no caixão, ele levanta, sacode o corpo, e sai arrastando o povo outra vez.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.