
Felipe Camarão - O Espírito de Guararapes
04/09/2025 -
Por Zé da Flauta*
No dia 19 de abril de 1648, os Montes Guararapes viraram palco de algo maior que pólvora e sangue. Foi ali que se plantou a semente de uma identidade brasileira, um exército mestiço, feito de índios, negros e brancos que esqueceram diferenças para lutar contra o invasor holandês.
Índio potiguar
Entre eles, ergueu-se a figura de Felipe Camarão, índio potiguar convertido ao cristianismo, mas fiel ao espírito guerreiro dos seus ancestrais. Sua presença não era apenas espada ou arco, era símbolo. Ele carregava a certeza de que aquela luta era também uma luta pela alma da terra.
Guerreiro
Na primeira batalha, Felipe Camarão foi mais que um comandante, foi inspiração. Seus guerreiros indígenas conheciam a mata como ninguém, e a floresta era trincheira, a flecha um raio, a emboscada uma alternativa. Ao lado de João Fernandes Vieira, Henrique Dias e Vidal de Negreiros, Camarão fez do Guararapes um reduto de astúcia.
Vitória
Se a vitória não foi completa, foi suficiente para mostrar que os holandeses, com toda a disciplina e canhões, podiam sangrar diante da união improvável dos filhos da terra. Felipe brilhou ali como estrela que guia na noite, mas uma estrela que se apaga cedo demais.

Entre batalhas
Felipe Camarão não chegou a ver o desfecho. Morreu em 1648, meses após a primeira batalha, antes do confronto decisivo de fevereiro de 1649. Sua ausência foi sentida, mas sua memória permaneceu como lança erguida na mente dos combatentes.
Segunda batalha
A segunda batalha, sem ele, foi mais dura e exigiu ainda mais coragem dos que ficaram. É curioso pensar que, às vezes, o maior peso de um guerreiro não é o braço, mas o exemplo. Felipe não estava em corpo, mas seu espírito resistia nas flechas disparadas, nas emboscadas traçadas e na coragem dos que gritavam pela terra.
Reflexão
Os Guararapes, até hoje, ecoam esse paradoxo, um índio convertido ao cristianismo que lutou por um império português, mas que, sem querer, ajudou a fundar o Brasil. Felipe Camarão não combateu por bandeira verde e amarela, mas por justiça, pela dignidade de um povo que não aceitava ajoelhar-se diante de outro. E é aí que mora a filosofia: os heróis não sabem que são heróis. Morrem antes da glória, mas deixam sementes que florescem na história.
A terra
A terra guarda os ossos, mas o vento espalha a memória. E os Montes Guararapes ainda sussurram o nome de Felipe Camarão, guerreiro que nunca deixou de estar na batalha.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.
