
É Findi – Onde Judas Perdeu as Botas - Crônica, por Xico Bizerra*
06/09/2025 -
Tinha ciência que era longe e difícil, mas, ainda assim, resolvi ir. Segui o conselho de um amigo e caí na estrada. Tinha que ir, o coração mandava. E fui, assoviando e chupando um dim-dim de cajá-imbu.
Deparei-me com o vento fazendo a curva numa esquina distante. Não era a esquina em que eu queria chegar. Na verdade, estava a mais ou menos umas doze léguas da fronteira com as Cucuias.
Continuei, caminho longo e poeirento, bem pra lá do muito longe, era quase o fim do mundo ... Foi lá, numa praça quase deserta de gente, que vi uma mulher bonita dando milho aos pombos, dezenas deles, tão felizes quanto a bela mulher de generosas mãos.
Continuei.
Avistei castelos, museus, pontes, matas e mares. Até aquela casa famosa vi, mas nela não pisei: ao contrário, passei longe: não me interessava intimidades com o habitante daquela residência.
Fui até onde o cão chupa manga 'atrepado' num pé de coentro. De nada adiantou. Nada! Cheguei bem perto do quinto dos infernos mas parei. Clima muito quente e, pelo que soube, lá não tem ar-condicionado e eu sou muito calorento. Andei, andei e andei e quando dei fé estava de volta ao começo.
Desisti.
Não achei, nem nos Cafundós do Judas, as botas por ele perdidas ... Onde as perdeu? Nao sei. Aguardo a dica de alguém. Quem sabe volte a procurá-las: basta que Deus dê bom tempo e minhas pernas cansadas permitam.
Um dia acho as danadas dessas botas ...
*Xico Bizerra, é compositor, poeta e escritor.
