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É Findi - Sinfonia da Primavera - Crônica, por Maria Inês Machado*

06/09/2025 -

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Setembro: primavera no Brasil. Abril e maio em Londres.

Lembro, com saudades, das longas caminhadas no Regent’s Park. A claridade da primavera trazia cheiro de alegria. O friozinho ameno acalmava a alma. Caminhava ao encontro da cachoeira. Águas límpidas desciam sobre as pedras. As flores de cerejeira exalavam perfume. Convite à leitura à sua sombra. Não hesitei.

Convite aceito. Momento íntimo de leitura, reflexão, renovação das energias. De vez em quando, meu amigo esquilo se aproximava.

— Bem-vindo, amigo! Percebo que, nesta época, você sai da toca com maior frequência.
— Eu gosto da primavera.
— O que faz a diferença nessa estação?
— Ah! Além de ser uma das épocas do acasalamento, o número de visitantes ao parque aumenta. Nós nos aproximamos deles e recebemos nozes, amendoins, entre outras sementes e frutas.
— Gosto de me vestir com o casaco de festa e posar para os visitantes do parque.
— Você troca de vestimenta?
— Sim!
— Mas os seus pelos permanecem os mesmos...
— Percepção limitada. Observe! A vestimenta é a da alegria. Ela transparece nas minhas corridas entrelaçadas, nas subidas pelas árvores. Época de namoro com os meus pares.

Disputa! Nem sempre cordial, mas vale a pena. O amor representado na ninhada.

Natureza em ação. Perpetuação da espécie. E tudo isso sob o canto dos nossos amigos voadores. É festa no parque.

Primavera! Eu me sinto anfitrião, porém não nego a beleza do florescimento das árvores e dos canteiros. Cada espécie de flor tem o seu encanto. Harmonia na natureza.

— Silencia o teu ruído interno. Assim vais conseguir ouvir a sinfonia em pauta. Ela começa mesmo antes dos primeiros raios solares e se estende por todo o dia.

Um passarinho de penas coloridas completou:

— Os humanos são assim: perdem tempo, saúde e dinheiro investindo em problemas e esquecem dos tesouros visíveis aos olhos de ver.

— Meu amigo, as suas elucubrações são pertinentes. Vale a pena penetrar nas belezas da vida.
— Todas as estações têm a sua importância e finalidade. Porém, a visualização exige precisão nas escolhas. Viver exige coragem. Livre-arbítrio. A felicidade é possível. Não a felicidade compulsória — esta é prenúncio de adoecimento. É necessário desnudar-se dos preconceitos e ativar as forças de caráter que todos possuem.

A violeta, singela, aproveitou o ensejo:

— Veja, não me sinto menor pelo meu tamanho. Todas nós temos a nossa função na natureza. Aqui, além de contribuir para a composição harmônica do jardim, ajudo no destaque das demais colegas.
— Não entendi. Explica.
— É preciso coragem para mergulhar na análise do eu comprometido apenas com o supérfluo e renovar disposições.
— Quando o jardineiro faz a plantação, prima pela harmonia. Vai dispondo em círculo. Há preocupação com o nosso enraizamento. Uma não pode abafar a outra. O plantio adequado, a rega correta e a manutenção contínua — que envolve podas, adubação e controle de pragas — garantem nossa saúde e crescimento. A harmonia é um processo.

Assim também funciona na mente humana. Você já inquiriu a consciência sobre os fertilizantes que usa? Cuidado! O excesso é tóxico. Mata esperanças. Tolhe grandes realizações. Caso não consiga sozinha, a psicoterapia é uma boa aliada. Não vai tolher a tua vontade, que é soberana. O direcionamento é você quem dá, conforme o teu propósito de vida.

Reflexões pertinentes. A felicidade é possível. Ela se encontra no roteiro da vida humana. Todavia, há quem busque a felicidade compulsória. Essa não faz parte da condição humana. Alegria e tristeza se entrelaçam. Negar a tristeza, emoção básica, é escamotear a realidade. A proposta saudável é ativar as forças que todos possuem no mundo íntimo. Para tanto, não posso me robotizar.

Os últimos raios solares chegaram e, com eles, meu agradecimento à vida. Meu amigo esquilo fez menção de recolhimento e, com olhar sorrateiro, complementou:

— Primavera, na alma humana, é construção. A proposta é florescer.


*Maria Inês Machado é psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e em Intervenção Psicossocial à família. Possui formação em contação de histórias pela FAFIRE e pelo Espaço Zumbaiar. Gosta de escrever contos que retratam os recortes da vida. Autora do livro infantojuvenil 'A Cidade das Flores'.

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