
É Findi – O Bairro da Imbiribeira, por Carlos Bezerra Cavalcanti*
13/09/2025 -
O antigo Sítio da Imbiribeira, já existente no tempo dos holandeses, foi chamado durante algum tempo de: “Passagem dos Tocos” e corresponde hoje a um dos grandes Bairros do Recife, o da Imbiribeira, que se estende da Ponte Motocolombo, no extremo sul de Afogados, às confrontações do Pina e Boa Viagem, até a Praça do Aeroporto dos Guararapes, Vila do IP-SEP e Vila da SUDENE.
Foi nesse Bairro (no antigo Sítio da Fazenda) que, por determinação do General de Ferro, Floriano Peixoto, se verifica-ram as execuções de marinheiros envolvidos no episódio do fi-nal do século XIX que ficou conhecido na História do Brasil como “Revolta da Armada”, mais precisamente, num paiol que fora convenientemente construído e fechado em contorno por alta muralha de alvenaria e que tinha no centro do terreno a casa da guarda, com outra anexa para a residência do oficial comandante. A propriedade dispunha, ainda, de uma cacimba, pomar, horta e um grande capinzal.
As sentenças foram realizadas na manhã de 22 de Novembro de 1893, sendo vítimas cinco marujos do Cruzador Paraíba, ancorado do Porto do Recife.
Na madrugada do dia 14 de Janeiro de 1894, também no pátio desse paiol, era sumariamente executado o Sargento do Exército Silvino de Macedo.
Anos depois, segundo Pereira da Costa “Anais Pernambucanos vol. IV, pág.331, foram piedosamente exumados os des-pojos das vítimas daquelas duas execuções capitais e deposita-das em um Mausoléu na Igreja Matriz dos Afogados...”. Posteriormente, o descaso se encarregou de evaporar no tempo essas lembranças históricas. Assim, com o desastre do desabamento de parte da igreja da Matriz de Afogados, (em meados do sécu-lo passado) muitos túmulos ali existentes foram destruídos e, com eles o Mausoléu dos Fuzilados da Imbiribeira, o que não justificaria a mistura dos restos mortais daqueles heróis, haja vista que uma placa elucidadora indicava o local dos ossos, e que hoje, milagrosamente, se encontra no acervo do IAHGP, onde consta:
“Jazigo perpétuo dos Fuzileiros da Imbiribeira Guardião Manoel Pacheco; João Batista de Oliveira, Eusébio Athanásio, Américo Virgílio. Inácio Antônio Quaté (16 anos) Pernambuco. Ex-Sargento Silvino Macedo- 14 de Janeiro de 1894 – Direito do Coração – Exhumados do Campo de Imbiribeira por autorização do Ministro da Guerra. 11-01-1901.“
O nome da localidade Imbiribeira é proveniente de uma espécie botânica de grande porte, chamada Embira da família das Myrtáceas que fornece ripas para as cobertas das casas e que era abundante na região assim chamada desde os primórdios de seu surgimento.
O vocábulo Imbiribeira, segundo Pereira da Costa, (ob. e vol. cits.) e de origem indígena “encontramos que vem de Eim-bir rasgar, lascar, e Yo, madeira, que perfeitamente se harmoniza com a extração das ripas tiradas do seu lenho, lascado em tiras, como escreve Almeida Pinto, descrevendo a planta”.
No início dos anos de 1940, durante a presença americana no Recife, a Estrada da Imbiribeira, nessa época, nada mais era do que uma estrada vicinal, que ligava Afogados ao Campo do Ibura, futuro aeroporto que começara a ter valor como campo de pouso dos ianques. Esse logradouro praticamente margeava a estrada férrea de São Francisco que seguia o caminho do Cabo. Mocambos e sítios dominavam o local que, a partir de 1943 começa a receber os benefícios do Serviço Social contra o Mocambo, na interventoria de Agamenom Magalhães que ali construiu as primeiras unidades habitacionais a fim de abrigar funcionários públicos estaduais. Com o tempo, já como aveni-da, a Imbiribeira começou a ser pontilhada de estabelecimentos comerciais e industriais e aqui destacamos a NORLAR, fabricante das geladeiras “Kelvinator” e a ISONOR – ISOLANTES DO NORTE, os pernambucanos que hoje chamam ISOPOR, numa rápida assimilação ao nome desse produto (isolante tér-mico) fabricado no Sudeste, esqueceram totalmente o nome de batismo do produto, aqui em Pernambuco. Outros estabeleci-mentos também devem ser lembrados nesse bairro, inclusive, porque marcaram época na paisagem urbana e comercial da Imbiribeira: A Gauchinha, Galeteria Pajuçara, Frigorífico Do Nordeste, BRASILGÁS, Meira Lins Automóveis, ALCAN – Alumínio do Nordeste, China das Baterias, entre outras.
O Bairro é entrecortado pela Av. Mascarenhas de Morais, que homenageia o comandante da FEB Força Expedicionária Brasileira, na II Guerra Mundial.
*Carlos Bezerra Cavalcanti, Presidente Emérito da Academia Recifense de Letra
