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O clique e a gravata - Asa Branca no Blue Note

17/09/2025 -

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Por Zé da Flauta*


Era uma noite de janeiro de 1991, fazia frio em Nova York, mas os bastidores do Blue Note ferviam com o calor tropical da música brasileira. Eu estava nos Estados Unidos por causa de uma indicação que recebi ao Grammy, com um disco de forró que me trouxe até aquele templo do jazz. E, naquela noite, estava ao lado de minha esposa Gláucia, companheira de tantas jornadas.

Caos luminoso

Hermeto Pascoal chegava espalhando aquele caos luminoso que só ele sabe criar: flauta no bolso, chaleira na mochila, olhos brilhando como quem já ouve sinfonias nas conversas alheias. “Ô Zé, finalmente, já comprou aquele piano?”, ele me perguntou antes mesmo de um “boa noite”.

A força da música

Quando subiu ao palco, fez o que poucos conseguem: reinventou Asa Branca. Tocou a melodia uma vez, depois outra, sempre rearmonizando, como quem borda novas cores num tecido eterno. Era sua forma de nos homenagear, a mim e a Gláucia. E cada repetição soava como se o sertão de Gonzagão tivesse atravessado o Atlântico só para dançar nas teclas e nos sopros de um mago albino. Foi um daqueles momentos em que a música não apenas toca, ela abraça, consola e exalta.

Para sempre

Depois de incontáveis “encores”, corri ao camarim. Hermeto ainda revivia cada nota, já cheio de novas ideias. Foi então que, num impulso brincalhão e cheio de afeto, ele me deu uma “gravata”, dessas que mais parecem um abraço embolado de carinho e molecagem. Me pegou pelo pescoço como se dissesse, “você é dos meus!”. E foi Gláucia quem registrou aquele instante, clicando a foto que congelou para sempre o gesto, um retrato de irmandade, alegria e cumplicidade.

Ecos que Ficaram

Naquele abraço torto, cheio de vida, percebi que com Hermeto tudo é música, inclusive o afeto. A sua “gravata” foi uma nota fora da partitura, mas absolutamente certa na sinfonia da vida. Saímos rindo, como dois meninos velhos, ainda capazes de se surpreender com o som do mundo.

E até hoje, quando volto àquela noite, não é a luz da plateia nem o nome do Blue Note que me vêm primeiro à mente. É o clique de Gláucia e a lembrança daquele abraço-síncope, em que dois irmãos de som se reconheceram sem precisar dizer palavra.

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.

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