
É Findi - Ó, Pai, Clareai! - Texto de Opinião, por Romero Falcão*
20/09/2025 -
Dificuldade de Seguir Regras
Não, não precisa ser um sociólogo, antropólogo, estudioso das ciências humanas, para constatar estupefato o quanto o brasileiro tem dificuldade de seguir regras. A pandemia escancarou a indisposição das massas e dos cérebros privilegiados ao cumprimento de orientações , prescrições, protocolos sanitários, num momento em que os cemitérios contratavam retroescavadeira para dar conta dos sepultamentos.
"Brasileiro Cordial"
Imagine, caro leitor, nem no período extremo da covid-19 ,o "Brasileiro cordial" respeitou as regras do jogo. Então, o que esperar do seu comportamento no dia a dia? Meus poucos cabelos assanhados se eletrizam ao ver os motoqueiros rasgarem o código de trânsito em pleno asfalto num luxuoso desastre. Minha consideração aos bons motoqueiros.
Nobel de Literatura
Por falar em trânsito, o assassinato do regulamento vem de longe. Na visita ao Brasil, o Nobel de literatura, Albert Camus, ao trafegar pelas avenidas do Rio de Janeiro, em 1949, escreveu no seu Diário de Viagem: "Os motoristas brasileiros ou são alegres loucos ou frios sádicos. A confusão e anarquia deste trânsito só são compensados por uma lei: chegar primeiro, custe o que custar". Tenho a impressão de que a faixa de pedestre, no Recife, terceira década do século 21, é vista pelos motoristas como um código de barra.

"Não Urine no Chão"
Quando se trata de brasileiro, a lei não é só dos códigos, da frieza dos artigos e parágrafos. Adverte, apela à educação doméstica, o singelo cartaz com desenho e legenda pregado na parede do banheiro da academia, do consultório, das repartições do alto escalão: "Não urine no chão, jogue o papel higiênico no cesto. Após o uso dê descarga".
Grotesco, Irracional
Andando por um bairro chique do Recife, vejo o cartaz, dessa vez, de madeira, fincado na calçada dos estabelecimentos comerciais: "Por favor, não deixe seu pet fazer as necessidades na porta da minha loja". Da mesma forma, no ônibus, "não converse com o motorista". É o mesmo que dizer, leve o motorista pra passear. Chega a ser grotesco, irracional , ler esses avisos no banheiro, no passeio público, no coletivo, no elevador do condomínio de alto padrão.
Não Aprendemos Nada
Semana passada, marquei consulta médica. Na véspera me mandaram um zap lembrando dia e horário. No entanto, um detalhe na mensagem: atenção, caso esteja com algum sintoma de gripe ou tosse, solicitamos reagendar a consulta". Que absurdo, depois de atravessarmos tenebrosa pandemia, ainda assim, nós, sobreviventes, não aprendemos nada vezes nada. Nem o beabá que a atendente da clínica tenta ensinar.
O Apocalipse se Instala
E quando não há cartaz, placa, nem a lei da espada? No instante em que apenas a consciência coletiva minimamente civilizatória é exigida. Eis que o apocalipse se instala.Por exemplo, numa farmácia há vagas demarcadas para cinco carros. Daí o elegante pós-doctor estaciona na diagonal, ocupando duas vagas. Dois motoristas educados nas melhores escolas disputam a mesma vaga na garagem do shopping, com direito à tapa, tiro.

"A Regra é Clara"
No mundo virtual não é diferente.Quantas vezes vi administradores de Zap implorando para não postarem assuntos fora do objetivo do grupo, fazer o que foi determinado em comum acordo pelos participantes. Quantas vezes o indisciplinado dedo deste escriba envergonhou os tais grupos. Marmanjos, dentro da sala de aula, viram criança, já dentro do zap, ainda não souberam decifrar a metamorfose pela qual passam. Sei que não é um problema cognitivo. Talvez, disruptivo. Complementando o eminente árbitro de futebol, Arnaldo Cezar Coelho. Não basta "a regra é clara".Ó, pai, clareai os homens. "Será , será que será. Será que esta minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais mil anos"?- Caetano Veloso.
*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.

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