
O Homem da Cadeira de Rodas - Crônica, por Romero Falcão*
22/09/2025 -
Dia 21 de Setembro, Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência
Li que em abril do corrente ano, o Senado aprovou novo símbolo internacional de acessibilidade. "O símbolo, criado em 2015 pela ONU, procura englobar todos os tipos de deficiência e acessibilidade. Ele substitui o antigo símbolo internacional com a imagem de um cadeirante em fundo azul ou preto, que é associado a pessoas com mobilidade reduzida". Fonte, Agência Senado.
Sabotamos a Largada Inicial
No entanto, o que eu quero mesmo dizer nesta crônica vai além do símbolo. O homem da cadeira de roda que se exercita toda manhã no horário da minha caminhada faz refletir o quanto queimamos, sabotamos, a largada inicial. Vou parar de fumar, começar a dieta, a corrida... Mas...
Um Livro Aberto
Acordo cedo, o sol de setembro nasce bonito. Os pássaros nas árvores cantam diferente - trinados simples, repetidos, nenhuma variação - para agradar seus seguidores? Até a natureza contabilizando likes. Marco no relógio o início da caminhada. Na rua um livro aberto - o melhor livro - cabe a nós sabermos lê-lo. Hoje, abri na página do homem da cadeira de rodas.

Abrem Estrada Dentro de Mim
Todos os dias me dá lição de vida. Eu o observo com respeito e admiração. É pontual no horário, presente de segunda a sábado. Persistente no exercício físico. Cheio de determinação, disciplina. Empurra com as mãos as rodas paralelas aos pneus numa transmissão de movimento resiliente. Me cumprimenta num sonoro bom dia - saudação em extinção. Sua força interior me desloca da zona de conforto. Ele supera a aparente limitação do corpo. A cadeira engancha, trava, vai pra frente, pra trás, a cabeça pende para o lado. Os olhos examinam o obstáculo. As mãos incansáveis fazem manobras, transpõem crateras do asfalto. Abrem estrada dentro de mim.
Não Tenho Tempo
Mais do que isso, dá injeção de ânimo nos braços e pernas que arranjam todo tipo de desculpa para manter a inércia preguiçosa em dia. "Não tenho um bom tênis. "Onde moro não há pista adequada". "As ruas do meu bairro ficam cheias de lama quando chove". "Não tenho tempo".

Não sei o nome do homem da cadeira de roda. Não sei nada dele. Só sei que o meu pensamento gira, agiliza, quando o vejo. Então, revejo minha energia no mundo.
*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.
NR - Os artigos assinados refletem a opinião dos seus autores.
