
Opinião - Legítima defesa do Congresso coisa nenhuma. Povo foi às ruas contra a PEC da bandidagem
22/09/2025 -
Graça Marques*
Discordo do amigo José Nivaldo Junior, a quem muito admiro, registre-se, no seu artigo "PEC da Blindagem é legítima defesa do Congresso", publicado sábado passado, aqui em O Poder.
Tenho participado das lutas políticas desde os anos 1960, ainda estudante do Liceu Paraibano, que me ensinou, além das ementas acadêmicas, a distinguir e aguçar meu senso crítico em relação à forma e compromissos da esquerda e da direita, enquanto governantes. Nesse período todo, tivemos lutas históricas contra a ditadura, como a campanha das Diretas Já e várias eleições. Onde a esquerda, através da mídia tradicional e do poder econômico da direita, foi sempre derrotada, destruindo todos os sonhos de sermos vitoriosos, até Lula conseguir ser eleito, depois de três derrotas consecutivas.
O país
Seguiu por 13 anos e 8 meses sendo governado pela esquerda e, nesse período, tivemos a implantação de várias políticas sociais que permitiram fazer a diferença no país, minimizando a fome, diminuindo o desemprego, aumentando a renda dos trabalhadores, melhorando a educação, saúde e moradia, até que a direita, através de um “acórdão com STF e tudo” conseguiu depor a Presidente em um ato de reconhecida e inigualável injustiça, viabilizando a volta da direita ao poder e, com ela, todos os vícios da sua injusta forma de governar, onde os privilégios dos ricos passam a ser prioridade, o aumento da concentração e diminuição da renda dos trabalhadores são seus principais objetivos. Retroagindo todos os nossos avanços do período governado pela esquerda.
Qual o sentido desse breve histórico?
Procurei posicionar onde desaguou a retomada do poder pela direita, fruto de um golpe dissimulado por alegação de corrupção, comprovadamente inexistente. Ligando os elos entre os anos 1960 e os 2000, chegando a 2025, afirmo sem absoluta dúvida que, mesmo na época da ditadura, passando pelas Câmaras presididas por políticos como Severino Cavalcanti, Eduardo Cunha, Rodrigo Maia, Lira, entre outros, com perfis semelhantes, não causaram tanta estupefação e revolta aos brasileiros como esta legislatura.
Alguém lembra do povo na rua gritando palavras de ordem como, por exemplo: "Congresso inimigo do povo"? Certamente que não! Por mais medíocre e corrupto que o Congresso tenha sido em anos anteriores, não foi capaz de indignar tanto a população ao ponto de fazê-la ir às ruas, como nos últimos meses.
Primeiro
Este Congresso queria votar uma anistia, símbolo de permissividade e salvaguarda a um grupo de criminosos que, além de tentar um golpe de Estado, planejava a morte de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Nesse pacote da concessão da anistia, os descomprometidos Deputados, principalmente do Centrão e do PL, não queriam aprovar o decreto de dispensa do imposto de renda para a população que recebe até 5 mil reais por mês, corrigindo uma antiga e grande injustiça. Eles não aceitaram votar pelo simples fato de não concordarem que os ricos paguem míseros 10% de imposto, valor muito menor do que os 27% de imposto de renda pagos pela classe média. Esses 10% cobririam o déficit em razão da liberação da população que percebe até 5 mil reais. O recado que a câmara deu foi claro e objetivo: "Estamos aqui para defender os ricos". E mais: Também somos a favor dos marginais que queriam atentar contra a nossa democracia, conseguida através das lutas, do sangue e das torturas sofridas pelos que lutaram em sua defesa.
A mídia e o povo nas ruas são os únicos remédios para esses parlamentares recuarem das suas aberrações políticas e sociais.
Fomos às ruas
E ganhamos o primeiro embate. Felizes, pensávamos que eles tinham criado vergonha. Puro engano! Pouco tempo depois, eles se reinventam com mais gana, irresponsabilidade e agressão aos simples mortais brasileiros, querendo aprovar uma PEC que, de tão imoral, é chamada de PEC da bandidagem, a qual geraria uma “casta” totalmente livre e desimpedida da atuação da Justiça sobre ela. Estaria criada uma classe social, formada por brasileiros com direito para roubar (mais ainda) matar, estuprar e cometer outros crimes sem nenhum temor da Justiça. Afinal, eles seriam seus próprios juízes.
Não conformados, aprovaram outra PEC para anistiar os mesmos golpistas que sonhavam com a volta da ditadura. Todas essas tramas foram urdidas nas madrugadas brasilienses. Este Congresso inimigo do povo tem usado e abusado da falta de vergonha, dos interesses escusos, da traição aos seus eleitores e da vontade clara e cristalina de prejudicar o povo e o Brasil em defesa dos seus objetivos pessoais.
De volta às ruas
Voltamos ontem, dia 25 de setembro, às ruas nos 27 Estados e no Distrito Federal dando o mesmo recado: Não ã anistia, não à PEC da bandidagem. E sim aos projetos de lei que o governo Lula tenta aprovar, mas que dependem do voto dessa classe política, apelidada de "Deputados," apenas em razão dos seus pobres e ingênuos eleitores, que os elegeram pensando na realização de um mandato sério, honesto e responsável que eles deveriam exercer.
Óculos escuros
Para mim, o mais chocante é a proposição de todas essas medidas serem discutidas e votadas por eles, de cara lavada. Nenhum disfarce, nem uns simples óculos escuros, para que a falta de vergonha e o desrespeito ao povo fossem minimamente encobertos. Nada! O hábito da corrupção e dos privilégios os tornaram desonestos e insensíveis aos seus eleitores, às suas próprias dignidades (se é que existem), aos interesses da população e ao desenvolvimento do Brasil.
Enfim, esse Congresso foi o pior de todas as legislaturas da política brasileira, desde os anos da terrível escuridão democrática, em sessenta, e graças à justa indignação do povo nas ruas, o grande temor desses marginais, definitivamente, essas amorais PECs, não serão aprovadas.
*Maria das Graças Leal Marques Neves, pernambucana de Garanhuns, é formada em Grografia com mestrado em Administração Rural pela UFRPE, , com atuação profissional no Ministério da Agricultura e Abastecimento.
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