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Demolição da Penitenciária de Itamaracá - seria lindo se não fosse necessário construir mais presídios

22/09/2025 -

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José Nivaldo Junior*

Cada penitenciária erguida, em qualquer lugar, constitui um monumento ao fracasso da civilização. Nas sociedades primitivas, desde povos originários da Amazônia, povos nomades, esquimós e milhares de outros, não havia tal instituição. Nenhuma língua pré-histórica tem qualquer palavra para designar prisão. E olhe que esses tipos de sociedade sobreviveram milhões de anos. Milhões. Não é erro de digitação. Com o surgimento da sociedade competitiva e excludente, onde uns têm acesso aos bens mais sofisticados e a maioria não tem nada, surgiram o roubo e outras mazelas, próprias da auto-denominada 'Civilizacão'. E então, apareceram , entre muitas outras instituições excludentes, estados, impostos, repressão, polícia e masmorras.

Crime em escala industrial

A sociedade contemporânea de massas trouxe consigo o crime em escala industrial. E, presídios em profusão. Encarcerar a delinquência no atacado passou a ser a "solução" aplaudida pela quase unanimidade da população. Trazendo um falso sentimento de justiça aplicada e a equivocada sensação de segurança para os cidadãos de bem.

População carcerária

Tem quem ache os Estados Unidos o modelo do paraíso na terra. Pois bem, aquele país é líder mundial de encarcerados per capita. Mais de 2 milhões de pessoas habitam prisões nos EUA. Quantidade superior à população total de pelo menos 16 países. Prisões que, também lá, constituem escolas de pós-graduação em crime. No Brasil, a "população carcerária" beira 1 milhão de seres humanos. E não é muito maior porque... faltam presídios. Vivendo os presos, na imensa maioria, em condições sub-humanas. E, tecnicamente, são os "reeducandos", que, naquele ambiente, só aprimoram seus pendores criminosos e o ódio pela humanidade.





A Barreto Campelo

Foi uma péssima ideia de quem fez. Estragou Itamaracá e o turismo no Litoral Norte de Pernambuco. Segundo publicação oficial do Governo do Estado, a
penitenciária está sendo demolida pelas más condições estruturais da unidade, incluindo pavilhões deteriorados, e comprometimento de áreas administrativas e de segurança. E, registre-se, atendendo pedidos reiterados dos moradores da ilha e pressões do mercado imobiliário, interessado em transformar aquela atenuada Faixa de Gaza em recanto de negócios, turismo, lazer. Pena que não seja demolida e ponto final. Os prisioneiros já foram para outro lugar, onde não fiquem tão visíveis e não estraguem a valorização imobiliária.

Esse artigo

Convoca a uma reflexão mais profunda sobre o submundo que permeia a nossa sociedade. O caso não é de Pernambuco, do Brasil, do continente. Com maior gravidade aqui, acolá, é problema mundial. A governadora Raquel Lyra, que conduziu, nesta sexta-feira (19/09), o ato simbólico da demolição do pavilhão B da Penitenciária Professor Barreto Campelo, considerou o evento um marco no processo de reestruturação histórica do sistema prisional de Pernambuco. Após 50 anos de funcionamento, a unidade foi oficialmente desativada em 1º de abril de 2025. "A ação também atendeu a uma antiga demanda da população do Litoral Norte, abrindo caminho para o desenvolvimento econômico e turístico da região", registrou.





A governadora

Fez o que qualquer governante normalmente faria. Medidas preventivas de sucesso, a exemplo dos Compaz, das escolas de tempo integral, são raras no país e não constituem parte de uma política de Estado. Impõe-se, na verdade, uma reflexão mais profunda sobre a política criminal. Não apenas de Pernambuco, pois um estado só não faz verão. Também do país e do mundo ocidental.

Fórmulas vencidas

Será que é tão difícil perceber que precisamos encontrar novos caminhos? Que proibir e reprimir, drogas, botando o dedo na principal chaga do mundo ocidental, só tem aumentado exponencialmente o consumo? Que maiores contingentes políciais aumentam a sensação de segurança mas pouco afetam os verdadeiros índices de criminalidade? Não sou eu quem diz. Basta consultar as estatísticas. Que construir presídios e encarcerar pessoas apenas muda o formato do crime organizado? Esses e outros pontos cruciais precisam ser discutidos sem viés político. Sem a premissa "eles do lado de lá defendem isso, logo tenho que defender o oposto". Buscando soluções e não vitórias políticas de Pirro.

Lembrando Marx

O filósofo alemão disse no 'Manifesto' que o capitalismo, ao agrupar os trabalhadores no ambiente fabril, criou condições para a organização e conscientização das massas e isso traria a derrocada do sistema. Não aconteceu, óbvio. Porém, inspira uma paráfrase que está acontecendo sob nossos olhos: ao reunir os criminosos mais perigosos, o sistema prisional, no Brasil, criou condições para a expansão geométrica do crime organizado do lado de fora. E ao misturar criminosos de alto padrão a delinquentes pés de chinelo ou mesmo pessoas que, sem serem bandidos, encontram-se no cárcere pagando por algum erro eventual, a mercê das organizações criminosas, ampliou a "força de trabalho" a serviço do crime de forma exponencial.

Para não me deixar mentir

O Governo de Pernambuco, entre 2023 e 2025, entregou 1.854 vagas, sendo 954 no Presídio Policial Penal Leonardo Lago (PLL), na Região Metropolitana do Recife, e 900 na Unidade 2 do Centro Integrado de Ressocialização de Itaquitinga (CIR). O caso, repito, não é local. Porém, mais prisioneiros encarcerados significa mais bandidos nas ruas. E melhor organizados. Infelizmente, teremos que conviver com isso por muito tempo. Até a sociedade como um todo se convencer de que o caminho está errado. O que, sinceramente, com a lavagem ideológica que as pessoas recebem do 'sistema' 24 horas por dia, pregando como verdades absolutas falsas soluções, são poucas as esperanças disto acontecer nessa geração.

PS

Sinceramente, as 'soluções' que ouço dos especialistas no tema, não me convencem. Não passam de paliativos, mercúrio cromo para tratar feridas profundas.

PS2 - E não venham botar a culpa nos políticos ou em quem quer que seja. A culpa é da sociedade que se deixa manipular, sem juízo crítico, por falsos profetas, inclusive e até principalmente, do mundo digital.

*José Nivaldo Junior é historiador, publicitário, advogado não militante. Diretor licenciado de O Poder. Da Academia Pernambucana de Letras.

NR - Os textos assinados refletem a opinião dos seus autores.



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