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Dom Hélder Cãmara e a permanente luta na madrugada

25/09/2025 -

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Por Severino Vicente da Silva – Biu Vicente*

O beato Hélder Câmara costumava dizer, ao seu modo poético, que a escuridão da madrugada trazia consigo a beleza da manhã e a claridade do dia. A madrugada, pois, seria sempre o anúncio e a certeza que a noite, seja qual for, nunca é permanente. Referia-se ao tempo que não parecia passar da ditadura civil-militar que tomou conta do Brasil desde abril de 1964. Assim ele pretendia animar uma geração atordoada pela violência física e moral pela qual passava a sociedade brasileira.

Por seu turno

Não era pequeno o número de jovens que, ao seu modo, anunciavam o alvorecer; alguns com uma luta nas cidades, nos campos ou nas florestas, transformando seus sonhos em sangue. Outros, jovens de classe média, colocavam seus sonhos em poesia e música, descobrindo a criatividade dos brasileiros explorados desde o tempo de dominação portuguesa, vivenciados em danças, rituais, festas das diferentes religiões que marcaram a vida, a resistência de um povo oprimido.

Dessa maneira

Foi sendo construída a manhã de um novo dia que parece ter chegado em meados dos anos oitenta. Contudo, sabemos que os dias são seguidos pelas noites e elas trazem em seu seio novas madrugadas.
Essas experiências são vividas desde a adolescência, embora nem sempre sejam compreendidas então. Voltemos ao tempo dos anos sessenta, quando os povos africanos emergiam e auxiliaram a destruição dos impérios coloniais europeus que se montaram desde o século XVI, destruindo nações, reinos, culturas, expropriando populações e as riquezas do continente matriz da humanidade.

A crise da geração pós Segunda Mundial

Se esboçava na derrota francesa no Vietnã, na Guerra da Argélia, que foram precedidas pela independência da Índia pela Revolução Chinesa, enquanto povos europeus eram submetidos ao poder soviético e a América Latina iniciava o processo de encontrar um caminho que lhe fosse próprio e superar o que acadêmicos chamavam de subdesenvolvimento, pois tinham com modelo o sucesso do capitalismo, notadamente o modelo estadunidense propagado pela Disney Corporation e similares.

Aqui

Tomemos como referência a experiência francesa que chegou aos jovens católicos através dos escritos do padre Michel Quoits, notadamente o Diário de Danny. Este livro, ao lado do Diário de Anne Frank, abriu as portas da manhã para uma parte da juventude, enquanto outros jovens lançavam seus olhares para Franz Fannon, Emanuel Mounier, Jean P Sartre, Eric Fromm e outros. Cada um, ao seu modo, anunciava a Aurora. E muitos jovens criaram o dia, pois se a madrugada geográfica vem independente da ação humana, a liberdade, dos homens e das nações, é criada pelas suas ações. E por elas é mantida.

O Brasil

Aprendeu isso nos últimos anos. Após ter vencido a noite trazida pelos generais e seus aliados de paletó e gravata em 1985, parece ter-Tchans, Burrinhas Pocotós, “poesias” de apelos sexuais e outros assemelhados. Parecia caminhar em direção à barbárie, cultivando a serpente e seus ovos. E a nação viu-se envolvida pela ignorância, pela negação ao conhecimento; e essa massa semisselvagem chegou ao poder e deu continuidade ao processo de destruição dos valores socioculturais que estão sendo criados desde que indígenas e africanos se encontraram, forçadamente pelos lusitanos, contribuidores, também, para o processo de formação nacional.

Mau exemplo

A presença de um grupo familiar, avesso ao trabalho físico e cultivador de relações com milicianos no Parlamento e de práticas lesivas aos interesses públicos, buscaram corroer as instituições garantidoras da democracia, tendo sucesso relativo nos parlamentos -municipal, estadual e federal, após o domínio do Poder Executivo, de onde caminharam para as Forças armadas. Tiveram seus intentos barrados no Supremo Tribunal Feral que, durante algum tempo, foi a sentinela vigilante da nação.

De modo geral

A sociedade civil ficou silenciosa, exceto os empresários que financiam eleições e tiram proveito dos resultados. Mas o crescimento da desfaçatez foi tal que a sociedade foi acordando. Primeiramente o segundo mandato ao presidente que negou assistência aos brasileiros na pandemia do Corona Virus e, quando a Câmara dos Deputados criou uma lei que lhes permitia a impunidade, outra parte do Parlamento e quis aplicar o instituto da anistia aos que, animados pelo presidente derrotado nas eleições, viu as ruas das principais cidades do Brasil ocupadas, não golpistas, tolerados por ele, mas por cidadãos que diziam não à prática da corrupção, barrou a tentativa de criação de um governo autocrata no Brasil. E o povo na rua anunciou a madrugada e criou a possibilidade de um novo dia de liberdade.

*Severino Vicente da Silva é doutor em História e professor da UFPE. Olinda, 24 de setembro, dia de São Severino, Ofm.

NR - os textos assinados expressam a opinião dos seus autores.

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