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É Findi - O Disparo Veio do Alto - Crônica, por Romero Falcão*

27/09/2025 -

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Bebê Peludo no Colo

Li que o poeta Augusto dos Anjos frequentava o cemitério em João Pessoa como fonte de inspiração na criação dos seus sonetos. Clarice Lispector viu na feira um rosto sofrido, o qual deu origem à personagem Macabéa no seu livro "A Hora da Estrela". A rua, o mercado, a praça, o vuco-vuco do comércio, o ônibus, é mar que oferece pescaria ao escritor. Um dia desses, vi uma dondoca entrar num Pet Shop carregando o bebê peludo no colo. Entrei também, joguei o anzol. Fiquei na espreita, fazendo de conta que procurava joia, relógio, roupinha, brinquedo, lacinho. A isca viva funcionou. Dez minutos ouvindo o papo da madame com a funcionária por trás do balcão foram suficientes pra sair da loja, rascunhar ficção no celular.

A Segunda-feira Passar pela Janela

Ônibus, para mim, continua sendo o local mais rico, fértil, na descrição do cotidiano de beleza dura, crua, desconforto inspirador. Na juventude desbravara o Recife de ônibus. Na UFPE fazia todos os dias o trajeto Olinda-Cidade Universitária na linha Rio Doce-CDU. Era viagem longa, dava pra estudar, cochilar, comer pipoca, conhecer pessoas, ganhar corações femininos. Levei anos sem andar de coletivo. Depois de velho, revejo a segunda-feira passar pela janela. Escreveu o poeta Miró da Muribeca. “Janela de ônibus é danado pra botar a gente pra pensar”.



Smartfone em Modo Leseira

Havia esquecido dos macetes. Evitar o lado do sol. Quando muito cheio, a dica é ficar lá atrás, junto do banco traseiro. Somado com os adjacentes, há maior possibilidade de alguém levantar dos doze lugares. Quando o sujeito conhece o percurso, fica ligado no passageiro com a farda de tal empresa. Sabe onde vai descer, então se posiciona para garantir o lugar. Se resolver falar ao celular sentado no canto da janela, cuidado redobrado. Os ladrões adoram o Smartphone em modo leseira. O medo de assalto também alimenta a escrita. Não há desgraça que não oculte uma linha de luz.



Cenários e Cenas Urbanas

Estava na parada de ônibus da praça do Derby. Tabuleiros, carrinhos de comida, mendigos, gente apressada cruzando avenidas. Cenários e cenas urbanas. Lembranças do peixe-boi. Puxo prosa com a mulher ao lado. Unhas de punhal, cabelos tingidos de loiro. Olhos de gato. De repente, cuidado moço. A unha de faca aponta pra cima. Não deu tempo de escapar, o disparo veio do alto. Um pombo empoleirado me acerta uma pataca de merda no ombro.


*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.



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