
Futebol e Castigo - Crônica, por Romero Falcão*
29/09/2025 -
A Criatividade Dava Show
Na segunda infância eu levara jeito para dominar a bola. Intuitivamente aplicara os fundamentos do futebol no campinho de várzea. Formamos um time – Apolo - com padrão, técnico, sede e tudo. Brincadeira com direito à medalha no peito. Numa certa ocasião, o pai de um amigo assumiu o comando do time. Antes de cobrar resultado, deixava claro que o principal era o divertimento, fazer da redonda, brinquedo. E daí a criatividade dava show. Lembro bem de uma vez, participávamos de um torneio de futebol de salão no colégio Estadual de Olinda. Tínhamos o nosso craque, o pivô Murilo. Habilidoso, chutava com as duas, matava no peito como ninguém.

Nunca Esqueci Desse Dia
Fomos para a final, a decisão terminou empate. Perdemos nos pênaltis, atirei na trave, desabei em choro. Ficamos com a medalha de prata. Mas o nosso técnico foi ouro no espírito esportivo. Na hora de eleger o melhor jogador em quadra, para nossa surpresa, ele não escolheu Murilo - nitidamente o melhor de todos - apontou para o camisa 10 do time adversário. Nós, meninos atônitos, não entendemos nada, até seu Ari explicar que do outro lado do cimento havia um garoto bom de bola, não tão bom como o nosso Murilo, porém, merecia respeito, reconhecimento. Nunca esqueci desse dia.
Chegamos ao Fundo do Poço;
No entanto, na semana passada, li, perplexo, nos jornais: “A Federação Paulista de Futebol - FPF- lançou na semana passada, 23/09, um novo filme da campanha “-Ódio + Futebol”. Após fechar os portões de 144 jogos das categorias de base - Sub-11 e Sub-12 do campeonato paulista. Por conta do mau comportamento de adultos nas arquibancadas, a entidade divulga um vídeo em que deixa os pais de castigo”. Não acreditei quando li, tamanho grau de violência numa partida de garotos. Como se não bastassem bandidos infiltrados nas torcidas, cenas trágicas, selvagens, no futebol dos barbudos, dentro e fora do campo. Agora a molecada sofre com as ofensas dos pais nas arquibancadas. Assisti a uns trechos do horror. Fiquei impressionado. Onde erramos como sociedade? Chegamos ao fundo do poço? Porque a ira dos pais não é só nas quatro linhas, também se revela no convívio dos profissionais que trabalham em colégios.

Diz um dos pequenos atletas atacados pela fúria da arquibancada
- Xingar crianças. Fiquei triste, até chorei
- A gente tem muito medo de errar, se errar os pais xingam

A Jogada Mais Vergonhosa
Nos anos 70, o eminente psicanalista, Lacan, disse que as referências simbólicas, parâmetros, tradições, costumes, limites, estavam entrando em declínio, os quais norteavam, demarcavam as linhas do convívio social. E o capitalismo, por sua vez, serve de tampão mascarando perdas, faltas, fronteiras. Talvez os meninos-promessas de futuro astros das arenas - águia dos ovos de ouro cujo voo não admite queda. Ah, seu Ari ,se os pais pudessem compreender que futebol e castigo é a jogada mais vergonhosa na qual a bola se nega a fazer.
*Romero Falcão, é um cronista que se arrisca a fazer poema torto, autor do livro: Asas das Horas, com prefácio do Prof. José Nivaldo.
NR - Os artigos assinados refletem a opinião dos seus autores.

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