
Radiografia do Brasil mostra sobressaltos na economia e surpreendente estagnação
29/09/2025 -
Por Emanuel Silva*
Um setor Industrial sem tração, comércio enfraquecido e serviços ainda como motor da economia. O conjunto de dados do IBGE para 2024 e 2025 permite ver que a economia brasileira atravessa um período de sobressaltos e soluços de estagnação, marcado por oscilações frequentes e ausência de retomada firme.
A Indústria: uma fragilidade estrutural crônica
A indústria nacional continua sendo o elo mais frágil da atividade. Em julho de 2025, a produção caiu -0,2%, após pequenas altas e baixas ao longo do semestre. A curva suavizada mostra volatilidade e ausência de tendência clara, reflexo de juros elevados, câmbio instável e baixo nível de confiança dos empresários. O setor opera em um “platô instável”: cada pequeno avanço é seguido de declinios nos meses seguintes.

Esse comportamento
Reflete dificuldades estruturais, como falta de investimento em inovação, gargalos logísticos e alta dependência de insumos importados. Sem crédito mais acessível e ambiente favorável a novos projetos, a indústria deve seguir com avanços apenas pontuais.

Comércio, o consumo sob pressão
O comércio varejista também perdeu fôlego. Em julho, houve retração de -0,3%, segundo a série com ajuste sazonal. O movimento confirma uma curva lateralizada, sinal de que o consumo das famílias segue pressionado por endividamento crescente, juros elevados e renda em recuperação lenta. O desempenho é desigual: o varejo essencial, como supermercados e farmácias, resiste melhor; já os segmentos de bens duráveis e semiduráveis, mais dependentes de crédito, sofrem quedas sucessivas. A expectativa é que o varejo só mostre sinais consistentes de melhora quando houver redução mais forte do juro real e expansão da massa salarial.

Setor de Serviços: um motor ainda resiliente
Entre os grandes setores, os serviços continuam como o motor que sustenta algum crescimento do PIB. Em julho, o volume de serviços cresceu 0,3%, apoiado em atividades empresariais, de transporte e prestados às famílias. Apesar do avanço, é visível o fenômeno da desaceleração gradual. O impulso que vinha do pós-pandemia perdeu força, e a expansão hoje depende mais da evolução do mercado de trabalho e da renda disponível. Ainda assim, os serviços seguem sendo a principal âncora do crescimento, compensando parte da fragilidade da indústria e do comércio.
Mercado de trabalho: melhoras e fragilidades
A taxa de desemprego recuou para 5,8% no 2º trimestre de 2025, o melhor resultado dos últimos anos. O dado reflete a expansão do setor de serviços e a absorção de mão de obra em ocupações diversas, muitas delas informais.
Todavia, os números revelam fragilidades importantes. O país ainda convive com alto nível de informalidade, milhões de desalentados que desistiram de procurar emprego e trabalhadores em subocupação, com jornadas inferiores ao desejado.
Outro ponto
É a forte dependência de programas sociais, como o Bolsa Família, que atende mais de 20 milhões de famílias, mas não têm porta de saída. Embora funcione como rede de proteção e garanta piso de consumo em regiões vulneráveis, não substitui políticas de geração de emprego formal, nos setores da indústria, comércio e serviços, além da baixa qualificação da mão de obra.
Os Desafio à frente
A leitura geral do Brasil 2024/2025 é de uma economia que melhora na margem, mas sem consolidar avanços estruturais. A combinação de indústria estagnada, comércio enfraquecido e serviços em moderação desenha um quadro de instabilidade.
O desafio
É romper esse ciclo de soluços e construir uma trajetória sustentável. Isso passa por investimento produtivo, estímulo à inovação, crédito mais acessível e qualificação de trabalhadores. Sem esses vetores, o Brasil seguirá preso a ganhos passageiros, incapaz de transformar recuperação conjuntural em desenvolvimento.
*Emanuel Silva é professor e articulista.

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