
Jornal Última Hora liderava vendas em Caruaru em 1962
30/09/2025 -
Por Tavares Neto*
Na manhã da segunda-feira, 20 de agosto de 1962, o Porto do Recife recebeu uma carga surpreendente destinada ao Consulado dos Estados Unidos. O jornal Última Hora estampou em sua primeira página a denúncia de que, em meio a dezenas de caixotes, cada um continha 200 mil balas, somando mais de uma tonelada de munição.
Chegou a marcar entrevista
O cônsul norte-americano, Delgado Arias, chegou a marcar entrevista coletiva para esclarecer o episódio, mas não compareceu. A revelação ganhou contornos políticos e acirrou ainda mais a disputa eleitoral entre Miguel Arraes de Alencar e João Cleofas de Oliveira.
Pleito
Naquele pleito, o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD) apoiava João Cleofas, candidato da direita, que acabou derrotado em Pernambuco, mas saiu vitorioso em Caruaru sobre Miguel Arraes.
Os jornais
Curiosamente, jornais tradicionais do estado, como o Jornal do Commercio, o Diário da Noite e o Diário de Pernambuco, optaram por não repercutir a denúncia.
A notícia
Em Caruaru, entretanto, a notícia ganhou grande destaque graças ao comerciante Abdias Lé, presidente do Partido Comunista no município e proprietário da Barraca Yuri Gagarin. Ele utilizou um carro de som para anunciar o furo do Última Hora, dirigido pelo jornalista Samuel Wainer. O resultado foi imediato: os exemplares do jornal se esgotaram rapidamente.
Presos
Dois anos depois, com o golpe militar de 1964, Abdias Lé e Severino Ferreira, o popular “Biu Moscozinho”, foram presos sob a acusação de venderem o Última Hora em Caruaru. Para os militares, o jornal era considerado comunista por estar ligado ao presidente João Goulart e ao então prefeito do Recife, Miguel Arraes, que se tornara governador de Pernambuco.
*Tavares Neto é jornalista e radialista em Caruaru.
