imagem noticia

O Advogado do Diabo, Por Natanael Sarmento*

30/09/2025 -

imagem noticia
A “Europa perdida de si mesma” publicado em O PODER (29/09/25) aborda a intrigante relação entre política e religião. Tendo que a qualificação da autoria informa personalidade afeita às letras jurídicas, moveram-se circuitos sinápticos das minhas remotas lembranças infanto-juvenis do livro “O Advogado do Diabo”, de Morris West.

O livro

A história trata da canonização de um homem tido como santo milagroso pelos moradores de uma pequena comunidade. Um padre é designado à investigação para fins de beatificação, verificar in loco a veracidade ou falsidade dos milagres alegados.

Nessa embaixada, após entrevistas e conversas, o representante do vaticano depara-se com uma sinuca de bico a dificultar os interesses da Santa Sé, pois calhava um novo Santo no jogo político de eleição papal. O óbice do “santo social” ser canonizado foi ter sido comunista em vida. A questão central da narrativa ficcional de West, naturalmente, transcende ao misticismo de uma vila: quantos interesses envolvidos são encobertos nas santificações?

A ‘decadência” do Ocidente

Na opinião do novo cruzado, as “tradições milenares são vistas como fardos coloniais; a própria raiz cristã é banida do vocabulário público”. Relembra os valores fundantes da civilização europeia ocidental cristã: a filosofia grega, o direito romano e a fé de Jerusalém. Considera o pluralismo, a neutralidade cultural do laicismo ilusão e não conquista civilizatória. Uma espécie de gazua que ameaça as portas sagradas de Jerusalém. A Europa, mais avançada civilização, “esquece de si mesma”.


Oportunistas eleitorais

A leniência de governos deve-se a razões oportunistas eleitorais. O avanço das políticas de identidades possibilitaram a “ascensão de comunidades muçulmanas com forte coesão interna. Muitos Estados europeus têm permitido a criação de “ilhas normativas” onde princípios islâmicos são aplicados na prática social”.

Decadência da civilização

Cita como decadência da civilização ataques de “patrulhas da sharia” em Londres, Bruxelas, Marselha e Berlim. Sustenta que a Europa renuncia a si mesma e não precisa de inimigos, produz a própria ruína. “O laicismo degenerou em algo paradoxal: de guardião da neutralidade, tornou-se máscara da conivência”.

Apologia a Trump e espiritualidade

Afirma que Donald Trump é uma liderança e voz que se alevanta contra a “erosão cultural” e acusa a imprensa progressista de Fake news. Porque Trump sai da superfície e desmascara, “a mídia evita discutir o núcleo do problema: o enfraquecimento da identidade europeia”. Porém, a seu ver, “o que o está em jogo é mais profundo do que uma disputa entre laicismo e religião, entre esquerda e direita, ou entre europeus nativos e imigrantes. O verdadeiro risco é espiritual: a Europa está esquecendo suas raízes.” O advogado sustenta que Jerusalém simboliza a “dignidade intrínseca da pessoa humana, a consciência de que cada vida é portadora de um valor inegociável.

Nas conclusões

Aduz que a Europa vive uma encruzilhada: continuar nesse caminho da renúncia envergonhada do seu passado até despencar como uma árvore seca sem raiz ou
ter coragem de afirmar sua identidade sem medo de acusação de intolerância.

Para escapar da decadência, a Europa deve dar uma guinada para extrema direita pois
“os EUA retomam o fio de sua própria grandeza, a Europa hesita [...] O contraste é brutal: de um lado, uma nação que ousa corrigir seu rumo e reafirmar sua liderança; do outro, um continente que insiste em se perder de si mesmo, como se o suicídio cultural fosse o preço inevitável da tolerância.

Santos cruzados

O rei Luís IX da França, pelos bons serviços à fé cristã, cortou cabeças de árabes infiéis, a exemplo de outros cruzados, foi santificado. O proclamado espiritualismo humanista, mas nem tanto, do idealismo filosófico presente no artigo de Santo Henrique nos remete à crítica da filosofia alemã, do materialismo-dialético de Marx e Engels.

O novel cruzado Santo Henrique idealiza uma Europa de supremacia branca. Estados ou governos confessionais judaico-cristãos que combatem o “relativismo” da ilusão laica de liberdade religiosa que é uma falsa liberdade, critica a imprensa que condena a “voz firme”, ações imperialistas belicistas e genocidas de Trump e Netanyaho.

Qual paradoxo, cara pálida?

Todo idealista-filosófico cria um paraíso, parte de uma ideia – Marx chama de “formas de consciência” com base em valores e interesses – a partir dos quais tentam explicar ou moldar a realidade material, o ser social. Assim se imagina a Europa e/ou América da KKK, supremacia branca etc. Não contam os processos que fizeram da rica civilização do Norte e da Europa, ricas: explorações coloniais, escravismo, genocídio de populações afros, ameríndias, asiáticas. Dizimação de outros povos e civilizações, quais Incas e Astecas. É o Jesus na redoma de ouro do culto. Sem dizer de onde veio o ouro ou o dízimo desse milagre.

Conquistas históricas das revoluções humanas, a libertação da ditadura clerical religiosa e liberdade de culto, os direitos humanos dos povos à existência são “minimizados” e considerados obstáculos pelo Santo Henrique. Ora pois! Trump libera 7 bilhões em mísseis e bombas para Israel “fonte da grandeza espiritual” dizimar o povo palestino.

Lucros de empresário imobiliário

E contabiliza seus lucros de empresário imobiliário na construção de hotéis de luxo no território usurpado por Israel. Diante de tanta espiritualidade, a minha materialidade de comunista é obstáculo intransponível à santificação qual a do Giovane personagem da obra Advogado do Diabo.

Citações

O artigo tem citações que ecoam forte como batidas de bombos, mas sonoridades, igualmente de espaços vazios, ocos por dentro. Não partem da Terra para explicar o Céu. E não consegue ocultar, apesar da tentativa de elegância nas palavras, a hediondez de um pensamento extremado, intolerante, sionista, racista e de ultradireita.

Só faltou falar em pacificação com a anistia para os golpistas terroristas de 8 de janeiro, os patriotas que desfilam com bandeira dos EUA no 7 de Setembro da independência do Brasil. Mas segue a lógica caótica de mitificar diabos e santificar genocidas.


*Natanael Sarmento é professor e escritor. Do Diretório Nacional da Unidade Popular Pelo Socialismo - UP

NR - Os artigos assinados expressam a opinião dos seus autores. Todas as pessoas e instituições citadas têm total espaço para suas manifestações.

Deseja receber O PODER e artigos como esse no seu zap ? CLIQUE AQUI.

Confira mais notícias

a

Contato

facebook instagram

Telefone/Whatsappicone phone

Brasília

(61) 99667-4410

Recife

(81) 99967-9957
Nós usamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência em nosso site.
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Jornal O Poder - Política de Privacidade

Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos projetos gerenciados pela Jornal O Poder.

As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas apenas para fins de comunicação de nossas ações.

O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar diretamente o usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como geolocalização, navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações sobre hábitos de navegação.

O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a confirmação do armazenamento desses dados.

O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus formulários preenchidos.

De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a Jornal O Poder não divulgará dados pessoais.

Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a Jornal O Poder implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.

fechar