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Radiografia do Brasil: o crédito cresceu e a inadimplência avança Por Emanuel Silva*

01/10/2025 -

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Os dados do Banco Central oferecem um retrato claro: em pouco mais de uma década, o crédito no Brasil dobrou, tornando-se peça central do funcionamento da economia. Mas o que poderia ser sinal apenas de maturidade do sistema financeiro vem acompanhado de duas marcas preocupantes: a escalada da inadimplência e o alto comprometimento da renda das famílias.

A ampliação do crédito

A evolução das concessões é eloquente. Entre 2011 e 2025, o crédito para pessoas jurídicas passou de cerca de R$ 120 bilhões mensais para R$ 250 bilhões — um salto superior a 100%. Mais impressionante, no entanto, foi o avanço entre pessoas físicas, que saíram de R$ 100 bilhões para mais de R$ 350 bilhões no mesmo período, um crescimento de aproximadamente 250%.

O movimento reforça o papel do crédito como sustentáculo do consumo e como principal fonte de capital de giro das empresas. Mas também expõe um efeito colateral: maior vulnerabilidade quando as condições de mercado mudam.

O ciclo do endividamento

A expansão do crédito não veio sozinha. Foi acompanhada pelo forte aumento do endividamento das famílias e pelo comprometimento crescente da renda. Em 2005, ambos os indicadores estavam abaixo de 17%.

De lá para cá, a trajetória foi de escalada. O endividamento das famílias com o sistema financeiro subiu para 37,5% em 2013, bateu quase 50% em 2022 e se mantém pouco abaixo desse patamar em 2025. Já o comprometimento da renda com o serviço da dívida avançou de 17% em 2005 para 22,5% em 2011. Após anos de relativa estabilidade e ligeira baixa em 2021, ganhou força, alcançando mais de 25% em 2025.

Em termos práticos, isso significa que uma parcela crescente da renda mensal das famílias é destinada a honrar dívidas — pressionando consumo e limitando a capacidade de poupança.

A inadimplência da carteira de crédito

O terceiro dado fecha o quadro: a inadimplência. Entre pessoas físicas, o ponto mais alto foi em 2012, com cerca de 5,5% da carteira. Houve queda nos anos seguintes, até atingir 3% entre 2021 e 2022. Mas desde então a curva se inverteu: 4,25% em 2023 e 4,75% em 2025.

No caso das pessoas jurídicas, a volatilidade é ainda mais evidente. O índice estava em 2% em 2011, chegou a 4% em 2017, caiu para apenas 1,25% em 2021, mas voltou a subir, alcançando 2,75% em 2024 e mantendo 2,5% em 2025.

O dado mostra que, embora em patamar menor do que o das famílias, as empresas enfrentam um ambiente de maior fragilidade no crédito, especialmente diante de juros elevados.

O custo do crédito

O Indicador de Custo do Crédito (ICC) evidencia outra pressão. Para as famílias, o ICC estava próximo de 26% a.a. em 2013, alcançou 29% em 2017, caiu para 21% em 2021 e voltou a subir, chegando a 27% em 2025.

Para as empresas, a curva é semelhante, mas em patamares mais baixos: de 15% em 2013, atingiu 16% em 2017, recuou para 11% em 2021 e voltou a 17% em 2025.

Na prática, significa que o Brasil segue operando com um custo de capital estruturalmente alto, o que reduz a competitividade e desestimula investimentos de longo prazo.

O que o cenário aponta

Esses números podem ser lidos sob duas óticas. Para os otimistas, refletem um mercado de crédito mais profundo, com maior acesso para famílias e empresas, ainda que com custos elevados. Para os cautelosos, apontam para um risco de sobreendividamento estrutural, onde a alta da inadimplência e os juros persistentes podem transformar o crédito de motor em freio do crescimento.

A fotografia do credito e do endividamento no século XXI

Em 2025 o sistema financeiro se apresenta mais amplo, contudo está bastante pressionado. O alto comprometimento da renda restringe o consumo — que representa mais de 60% do PIB — e ameaça frear varejo e serviços já em 2026. A inadimplência empresarial, em patamar crescente, pode reduzir investimentos e afetar a geração de empregos.

As concessões de crédito, embora recordes, correm o risco de perder fôlego se os bancos endurecerem critérios de análise diante do aumento dos calotes. Mesmo com renegociações promovidas pelo atual Governo Federal, a curva de ascendente de endividamento e comprometimento da renda familiar não arrefeceu Já o custo elevado do crédito mantém o Brasil em desvantagem frente a outros emergentes e limita a competitividade. Todavia, este custo é decorrente das atitudes do próprio Governo que, na busca por mais crédito para financiar suas ações, tende a impactar o mercado.

Esse conjunto de fatores não é novidade: parece repetir o ciclo brasileiro em que juros altos e inadimplência crescente transformam a euforia da expansão em um período de estagnação. Os dados atuais sugerem que estamos novamente diante desse dilema.
Em 2016: entre acelerar e frear
O crédito brasileiro chega a 2025 como motor indispensável da economia, mas também com sinais claros de esgotamento. O futuro imediato — entre 2026 e 2027 — dependerá da capacidade de equilibrar três variáveis centrais: acesso, custo e capacidade de pagamento de famílias e empresas.

A isso soma-se um quarto elemento decisivo: a responsabilidade fiscal do Governo Federal. Sem a redução do déficit público e o fortalecimento da confiança macroeconômica, o país dificilmente conseguirá sustentar juros mais baixos e crédito saudável.

Em síntese

O Brasil enfrenta novamente a encruzilhada entre fazer do crédito um instrumento de crescimento sustentável ou repetir o ciclo de 2011, quando abundância de recursos e políticas mal calibradas abriram caminho para um longo período de estagnação.

*Emanuel Silva é professor e articulista.

NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores.

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