
O alto preço de uma contradição Por Angelo Castello Branco
02/10/2025 -
A decisão do Congresso Nacional de destinar R$ 5 bilhões do orçamento público para o financiamento das campanhas eleitorais revela mais uma contradição gritante da política brasileira.
O que nasceu como um mecanismo para reduzir a influência do poder econômico privado na escolha de candidatos, acabou criando um monstro fiscal que consome recursos preciosos em um país marcado por carências estruturais profundas.
Sustentar velhas raposas
Em vez de ir para hospitais, escolas, saneamento, segurança pública e tecnologia, esse dinheiro serve, na prática, para sustentar velhas raposas políticas e um sistema obsoleto, incapaz de se modernizar ou de oferecer respostas reais às necessidades da população.
Combate à corrupção
O discurso de combate à corrupção e de redução da influência empresarial nas eleições se transforma em farsa quando o Estado sequestra bilhões dos cofres públicos para alimentar um modelo que perpetua privilégios e cristaliza a distância entre governantes e governados.
Transferência do poder econômico
Na prática, o que ocorreu foi apenas a transferência do poder econômico: ele deixou de estar nas mãos de empresas privadas e passou a ser exercido diretamente pelo orçamento público — com um custo ainda maior para a sociedade, sobretudo para os contribuintes.
O resultado
O resultado é perverso: menos serviços, mais fome, mais desigualdade e um país que insiste em desperdiçar energias e recursos para preservar um jogo político fechado, incapaz de abrir caminhos para a renovação e para o fortalecimento democrático.
Precisa rever
O Brasil precisa rever urgentemente esse modelo. Democracia não se constrói com a apropriação de dinheiro público para sustentar campanhas, mas com transparência, responsabilidade fiscal e respeito aos cidadãos.
Na prática, a lógica do poder econômico apenas mudou de endereço: saiu da esfera empresarial e passou a ser exercida pelo Estado, com um custo ainda maior para o contribuinte.
Problema de eficiência fiscal
Isso representa não apenas um problema de eficiência fiscal, mas também um obstáculo ao amadurecimento democrático. Ao financiar candidaturas com dinheiro público, reforça-se a desigualdade de acesso político e se perpetua a hegemonia de grupos já consolidados, em vez de abrir espaço à renovação e ao pluralismo.
Fica a dúvida se o financiamento de campanhas eleitorais por captação de dinheiro privado causaria menos danos ao país.
*Angelo Castello Branco é membro da Academia Pernambucana De Letras
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