
É Findi - Congresso Cariri Cangaço - Recife - Por Valéria Barbalho*
04/10/2025 -
Não sabia nada sobre esse evento, mas como meus colegas do Centro de Estudos de História Municipal (CEHM) iam participar, enxerida, me inscrevi e fui para o Congresso Cariri Cangaço - Recife. Um espetáculo! Aprendi muito com as palestras maravilhosas proferidas por competentes pesquisadores do assunto. Desde a abertura, na Academia Pernambucana de Letras, até o final com uma caminhada, que iniciou no Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP), na Rua do Hospício, e terminou na Casa da Cultura (antiga Casa de Detenção, onde os cangaceiros que sobreviveram ficaram presos), tudo foi perfeito. As palestras realizadas no auditório do Museu do Estado, foram ótimas. Não dá para falar de cada palestrante, pois não sobraria espaço no jornal. Vou citar apenas Frederico Pernambucano, o homenageado do evento, que enriqueceu ainda mais o Congresso. Fizemos, também, um passeio pelo belo Quartel do Derby. Lá houve uma visita técnica, ouvimos uma palestra sobre o Cangaço e visitamos o Museu da PMPE, onde estão as armas originais usadas naquela época. No Museu do Estado, além das palestras, teve uma feirinha de livros e a PMPE também se fez presente com um estande onde parte do Batalhão do BOPI exibiu curiosidades sobre as operações que realizam no sertão.

Logo que cheguei ao Museu, fiquei sabendo que meu pai, Nelson Barbalho, era o patrono da cadeira 40 da Academia Brasileira de Estudos do Sertão Nordestino (ABRAES). Fiquei feliz com a notícia. Meu pai, lá no céu há 32 anos, deve ter ficado todo ancho, pois ele gostava desse tema. Sua paixão começou depois que ele assistiu o filme de Lima Barreto, "O Cangaceiro", e leu o "Lampião" de Rachel de Queiroz. Isso em 1953. Daí em diante passou a pesquisar e escrever sobre esse tema.

Encontrei artigos nos recortes de jornais antigos que guardo. Um deles publicado no jornal Vanguarda em 1986. Chama-se "Cangaceiros". Vou resumir, pois o texto é longo. "De modo geral, cangaceiro é nação de gente malvada e ao mesmo tempo supersticiosa, de causar espanto nos menos avisados. Quase todos sofrem de TRISCAIDECAFOBIA, que é o medo mórbido do número 13. Assim, um bando jamais se constituirá de treze bandidos. Numa mesma mesa nunca se sentam treze pessoas. Todo dia treze cangaceiro que se preza se omite da luta e procura descansar e rezar. Mas, curiosamente, quando jogam no bicho, descarregam tudo que tem no galo, que é o número 13. Tem superstições que são de um ridículo sem par. Quando um bando vai atacar, por exemplo, três dias antes evitam transar com mulher, sob a alegação de que mulher e bala não se combinam e na hora do fogo mulher atrapalha, mesmo em pensamento. Sua cisma com o sexo oposto é tamanha que até das vestes femininas têm medo, tanto que quando vão cavalgar algum animal, examinam cuidadosamente os arreios para ver se algum malicioso escondeu sob a sela ou manta alguma calcinha ou combinação de mulher, peças que podem lhes ABRIR O CORPO, tornando-os vulneráveis.

Todo cangaceiro legítimo carrega um BREVE, no pescoço e na borda da aba do chapéu, na parte dianteira, lado que fica erguido, manda abrir vários SINOS DE SALOMÃO (Signos de Salomão) de 5, 7 e 8 pontas ou pernas, o mesmo fazendo do lado direito das coronhas dos seus rifles e fuzis, com o que se sente protegido. Acredita em reza forte e, quando bivaqueia, sentado com os companheiros, reza suas orações forçosas. Quando em viagem, fugindo de cercas e tocaias, repete as rezas forçosas para que elas os defendam de encontros fatais. Assim, acreditam viajar de corpo fechado, no qual nem bala entra.
Não tive tempo de procurar um mote / glosa que foi publicado em um dos seus 64 livros. Mas sei de cor o mote. É assim: Cangaceiro é uma sina / Não é uma profissão / Sina que o cabra cumpre / Nas caatingas do Sertão.
Pronto, já extrapolei o limite do Findi, tenho que parar por aqui. Parabéns aos organizadores do Congresso e grata a essa seleta turma de participantes por ter me acolhido com tanto carinho. SALVE O CARIRI CANGAÇO!
*Valéria Barbalho é médica pediatra, cronista e filha do escritor e historiador caruaruense Nelson Barbalho.

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