Por Natanael Sarmento*

A semana alvissareira da aprovação da isenção de I.R. para quem ganha até 5 mil reais teve a cena roubada pela má notícia de mortes pelo consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com etanol. Aterroriza muito além dos papudinhos de bares, dos bebedores sociais e padres nas missas. Bebidas “batizadas” com etanol é terrorismo. Grave ameaça à saúde e à vida de pessoas.

A conta da falsificação

Nas leis das trocas capitalistas, comprador/vendedor, fatalmente, se alguém perde no negócio, o outro alguém, lucra. Mormente quando o lucro é aumentado por ilicitude. A movimentação financeira das bebidas envolve bilhões. Impossível a cadeia sem ligação com o crime organizado, a alta cúpula e criminosos infiltrados nos aparatos estatais, da chapa branca.

Prejuízo

Em termos materiais o crime de falsificação de bebidas no Brasil alcança 36% da produção com prejuízo de 82 bilhões (You Tube).

São Paulo e o PCC

A maior organização criminosa do Brasil o PCC – Primeiro Comando da Capital emergiu e tem atividade principal em São Paulo, mas apoiada nos terminais de poder não apenas atua em todo Brasil como se expandiu para o Paraguai, Bolívia, Venezuela e outros vizinhos.

Trimestre da escalada do PCC

A ousadia do PCC se lastreia em costas largas para ir além das sandálias. Em agosto (2025) estourou o escândalo de relações entre os criminosos do PCC e empresas financeiras da Faria Lima. A lavandaria de gravatas deixava tudo “mais branco” como diria a antiga propaganda de sabão em pó. Em setembro, outro escândalo, na execução a tiros em via pública de Praia Grande, do ex Delegado Geral do Estado responsável jurado de morte pelo bando. Em outubro o escândalo das bebidas falsificadas com etanol e dos registros de óbitos pelo país.

Paradoxo do Freitas

Ao tempo que a escalada do PCC cresce, a requerer mais ações e consequentemente mais dinheiro no orçamento específico de combate ao crime organizado o governador Tarcísio reduz em menos de metade a destinação de verba orçamentária para 2026, projeta gastar 325,8 milhões. No corrente ano o orçamento do setor é de 666,4 milhões. Neste caso, lembro do bordão humorístico do macaco Sócrates: Não precisa o governador Tarcísio explicar, “eu só queria entender”.

Presidenciável

Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, do Partido Republicanos, tem veleidades presidenciais no pleito de 2066. É nome cogitado por parcela da ultradireita de viés fascista. Patriota do Deus Salve a América e cidadão acima de qualquer suspeita. A Constituição Federal presume inocência. A regra vale para todos os iguais, sobretudo, para os mais iguais.

Medidas

O governador de São Paulo adotou “todas as medidas legais cabíveis” para a apuração dos crimes. Tanto o assassinato do Delegado Ruy quanto a crime financeiro na Faria Lima correm sob “rigorosa investigação”, oficialmente. A ver.

Diligente

No caso da fraudes das bebidas o governador Tarcísio antecipa-se às investigações e descarta em “prima facie” o envolvimento do PCC. Não basta a esposa de César ser honesta, precisa parecer honesta. Essa precipitada declaração não se afigura uma coisa, nem outra.

Ligações neurais

Do fundo do inconsciente essa história me fez lembrar de um sucesso cinematográfico dos anos 1970, ambientado na Itália, conturbada por disputas políticas: “Investigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita”.

O filme

Foi indicado ao Oscar e estrelado por Glan Maria Volonté no papel do inspetor de polícia. História intrigante de um chefe de polícia mata a amante. O assassino deixa pistas que o incriminam propositalmente. Justamente o criminoso foi o inspetor designado para liderar a investigação. No curso das investigações ele observa se realmente “está acima de qualquer suspeita”.

Hamlet

Shakespeare, em Hamlet, celebriza a percepção de crimes e corrupções ocultas num reino: “Há algo de podre no reino da Dinamarca!”.

Cícero

O tribuno e moralista Cícero, indignado com as conspiratas do senador Catilina eterniza: “Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?”.
Elementar, meu caro
Diria o detive Sherlock: são frases repetidas até no ensino fundamental. Universais e atemporais, porque clássicas.

*Natanael Sarmento é professor e escritor. Membro do Diretório Nacional da Unidade Popular -UP.

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