
Pelé e a voz do povo, 1970 - Por Roberto Vieira*
06/10/2025 -
A Copa do Mundo de 1970, no México, foi um evento envolto em tensões políticas e esportivas no Brasil. O país vivia o auge da Ditadura Militar, que via na Seleção uma ferramenta de propaganda. A demissão do técnico João Saldanha - jornalista, comunista e conhecido como "João Sem-Medo" - a poucos meses do Mundial, gerou grande polêmica.
A pesquisa
A pesquisa de opinião apresentada pela Revista Placar antes da Copa capta o pulso da sociedade brasileira naquele momento de crise, focando em duas figuras centrais: Saldanha e Pelé.

Pelé
Em 1970, Pelé já era o "Rei do Futebol", bicampeão mundial (1958 e 1962). No entanto, o fracasso e a lesão na Copa de 1966 haviam levantado dúvidas sobre sua forma física. A pesquisa mostra que, para o povo, Pelé era mais do que um jogador: era uma instituição a ser protegida.
Na pergunta 4: "Se fosse técnico, você barraria Pelé da Seleção?", a maioria esmagadora dizia "Não". No total, 62% do público entrevistado era contra barrar Pelé, o que demonstra uma forte lealdade e a crença de que o craque ainda tinha um lugar garantido no time, apesar das críticas de alguns setores, incluindo o próprio Saldanha.
Zagalo
A pesquisa indica que, na visão popular, Pelé não apenas tinha vaga, mas era visto como essencial para o sucesso do Brasil na Copa. ?Na pergunta 5: "Você acredita que ainda temos chance de ganhar a Copa do Mundo?", a resposta "Sim" subiu significativamente após a crise (demissão de Saldanha e entrada de Zagallo) — de 68% para 81% no total. ?

A pergunta
Embora a pergunta não cite diretamente Pelé, o contexto da crise envolvia a ameaça de Saldanha em barrá-lo ("Pelé estava com problema de visão"). A permanência de Pelé na Seleção após a mudança de técnico provavelmente foi um fator crucial para aumentar a confiança do público no título.
Rejeição
A pesquisa permite identificar onde as dúvidas sobre Pelé e o apoio à mudança de técnico eram mais fortes: no Rio de Janeiro e em São Paulo. O Rio de Janeiro (38% a favor de barrar Pelé) e Belo Horizonte (48%) foram as capitais onde o percentual a favor de barrar o craque era maior, com São Paulo (47%) logo atrás. ?
O apoio
No entanto, é importante notar o outro lado: mesmo nas cidades mais críticas (SP e BH), o apoio para manter Pelé ainda era maior. A única capital onde a rejeição quase empatava com o apoio era Belo Horizonte. Seria por causa de Tostão?

A Voz do Povo é a Voz de Deus?
No contexto de 1970, o povo queria Pelé na Copa, e Pelé jogou. O Brasil foi tricampeão mundial com a considerada por muitos a melhor Seleção de todos os tempos. ?A pesquisa mostra que o desejo popular de ver Pelé no time se alinhou com o resultado final, validando a importância do "Rei" para a Seleção. ?
Prova
A pesquisa prova que, apesar da desconfiança de alguns técnicos e da imprensa, o instinto popular estava certo: a Seleção de 1970 precisava de Pelé para se tornar lendária. Deus e o povo? Falam a mesma língua do futebol.
*Roberto Vieira é médico e cronista. Preceptor da Residência de Oftalmologia da Fundação Santa Luzia/Casa Forte e da Uninassau.
NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores

Confira mais notícias
Ao utilizar nosso site e suas ferramentas, você concorda com a nossa Política de Privacidade.
Jornal O Poder - Política de Privacidade
Esta política estabelece como ocorre o tratamento dos dados pessoais dos visitantes dos sites dos
projetos
gerenciados pela Jornal O Poder.
As informações coletadas de usuários ao preencher formulários inclusos neste site serão utilizadas
apenas para
fins de comunicação de nossas ações.
O presente site utiliza a tecnologia de cookies, através dos quais não é possível identificar
diretamente o
usuário. Entretanto, a partir deles é possível saber informações mais generalizadas, como
geolocalização,
navegador utilizado e se o acesso é por desktop ou mobile, além de identificar outras informações
sobre
hábitos de navegação.
O usuário tem direito a obter, em relação aos dados tratados pelo nosso site, a qualquer momento, a
confirmação do armazenamento desses dados.
O consentimento do usuário titular dos dados será fornecido através do próprio site e seus
formulários
preenchidos.
De acordo com os termos estabelecidos nesta política, a Jornal O Poder não divulgará dados
pessoais.
Com o objetivo de garantir maior proteção das informações pessoais que estão no banco de dados, a
Jornal O Poder
implementa medidas contra ameaças físicas e técnicas, a fim de proteger todas as
informações pessoais para evitar uso e divulgação não autorizados.