
Não existe nada grátis. Hora de uma nova lei? - Crônica, por Emanuel Silva*
09/10/2025 -
Promessas “grátis” continuam sendo o disfarce preferido do populismo fiscal. O problema é que, no final, a fatura sempre chega — e é o consumidor e o contribuinte quem paga.
O Brasil vive um tempo de promessas fáceis: vale-gás, vale-água , vale-energia... Tudo parece brotar do nada. Mas a realidade é simples e implacável: não existe nada grátis.
O motorista do caminhão do gás não trabalha por caridade, o diesel não é doado e a energia não nasce do ar. Cada “benefício gratuito” tem um preço, que alguém paga, inclusive o próprio cidadão que recebe o vale-grátis.
A conta que cresce no silêncio
De 2014 a 2024, a dívida bruta do país saltou de cerca de 55 % para quase 80 % do PIB. A Instituição Fiscal Independente e o FMI alertam que, sem correções, o Brasil pode chegar a mais de 100 % do PIB até 2030.
Cada renúncia fiscal, gasto sem lastro ou programa permanente disfarçado de emergencial empurra a conta para o futuro. O populismo é a arte de patrocinar o presente com o dinheiro de amanhã, e a fatura sempre chega — em forma de juros altos, impostos e inflação.
A falsa bondade e o preço do “parecer bom
Enquanto se promete mais, corre-se para cobrar mais. Só que a velocidade dos gastos é sempre maior que a das receitas. Tudo é feito para parecer bonzinho, para conquistar aplausos rápidos e votos fáceis.
Mas quem paga é a sociedade. Quando o Estado se endivida para sustentar promessas políticas, corta investimentos, precariza serviços e empurra a nação para um ciclo de dependência e descrença.
Bondade sem responsabilidade é crueldade adiada: O retorno dos velhos erros
É assustador ver as antigas cabeças pretas (hoje calvas, pintadas de preto ou brancas) dos três poderes, que viveram o caos das décadas de 1970 e 1980, defendendo os mesmos erros que destruíram o país no passado.
Isso é nostalgia, teimosia ou vingança contra o bom senso? Qual o motivo desta perversidade contra o futuro?
Quem já enfrentou inflação descontrolada, congelamento de preços, desabastecimento e colapso fiscal parece agora aplaudir propostas que seguem o mesmo roteiro. É como assistir a um incêndio sendo reacendido por quem devia saber o tamanho do estrago que ele causa.
A proposta de uma nova lei: uma placa de alerta
Já que o país adora criar leis para tudo, fica aqui uma sugestão simples e pedagógica.
Que o legislativo aprove uma norma federal determinando que toda botija de gás, toda entrada de edifícios públicos, inclusive de saúde e educação, além de todo benefício subsidiado venham acompanhados de um aviso visível e obrigatório:
“Pago com o seu Imposto.”
Talvez, com esse aviso em LETRAS GARRAFAIS, finalmente se entenda que não existe nada grátis — nem vale-gás, nem vale-água, nem vale-energia, nem as "bondades" que o populismo vende como generosidade.
Agora não se pode admitir é o retorno do populismo fiscal acompanhado do velho truque de que tudo é grátis, mas no fundo, escondido, entregue uma dívida insustentável. Nenhum país se mantém de pé gastando o que não tem, e nenhum povo amadurece acreditando em milagres orçamentários.
É hora de deixar de acreditar em mágica financeira e encarar as coisas com seriedade. Talvez uma simples placa indicativa sirva de alerta para uma mudança de mentalidade. Afinal informar, de maneira simples e visível, de onde veio o recurso e qual o seu custo, sirva para alguma transformação.
Passou da hora de sair da adolescência e irresponsabilidade fiscal e financeira.
*Emanuel Silva, é Professor e Cronista

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