
Metanol em bebidas - Detectador entra em fase de testes para produção
09/10/2025 -
A onda de casos de contaminação por metanol não para de subir no Brasil. Já são 17 casos de contaminação e 259 notificações, sendo que, neste momento, há 235 em investigação. O aumento no número de casos suspeitos de intoxicação por metanol encontrado em bebidas alcoólicas no país reacendeu a preocupação com o uso indevido dessa substância tóxica.
A fase do ensaio científico
Diante desse cenário assustador, uma pesquisa inovadora desenvolvida por pesquisadores do Departamento de Química que compõem o Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ) da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) detecta metanol em bebidas alcoólicas de forma rápida e mesmo com a garrafa lacrada. O método inédito está prestes a entrar na fase de ensaio científico.
Ensaios visam garantir segurança
Os ensaios biológicos, conforme explicou o pesquisador, visam garantir a segurança do método e, consequentemente, a possibilidade do consumidor final utilizá-los sem riscos. Ele disse que a equipe não tem como precisar quando essa tecnologia estará à disposição da população, visto que depende do cumprimento de várias etapas, entre elas, os ensaios.
A conversa dos pesquisadores com O Poder
O Poder conversou com três dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, que deram detalhes da tecnologia, cujo foco é garantir a qualidade das bebidas destiladas. E falaram dos passos seguintes do estudo.

O novo sistema
O novo sistema, liderado pelo pesquisador David Douglas Sousa Fernandes, utiliza radiação (luz) infravermelha para identificar substâncias estranhas à composição original da bebida. Quando a luz incide sobre a bebida, as moléculas presentes na bebida são alteradas nas frequências de vibração, sendo cada tipo de molécula presente alterado de maneira distinta. Em seguida, um software trata os dados e um display indica se há ou não a presença de compostos adulterantes, como metanol, água adicionada ou até etanol veicular.
Revelou
O pesquisador David Douglas Sousa Fernandes revelou que a pesquisa, que ganhou ampla repercussão devido ao crescente número de casos de intoxicação por metanol, entrará em uma fase decisiva, que é o teste de amostras reais. As perspectivas são que os ensaios comecem já a partir da próxima semana. Trata-se de testes que serão realizados de forma sistemática e rigorosa para validar, comprovar a funcionalidade, a segurança e a eficácia da tecnologia.
O começo
A pesquisa começou a ser desenvolvida em 2023, portanto, antes do atual surto de intoxicações, no Laboratório de Química Analítica e Quimiometria, em colaboração com os professores Railson de Oliveira Ramos e Germano Veras (PPGQ-UEPB), Felix Brito (PPGCA-UEPB) e com a participação de outros pesquisadores.
O método
O método consegue identificar adulterações em poucos segundos, sem uso de produtos químicos e com 97% de precisão. Inicialmente, os pesquisadores analisavam a qualidade da cachaça produzida no interior da Paraíba. Com o aumento dos casos de intoxicação, a equipe adaptou o estudo para incluir a detecção de metanol e outras adulterações.

Testes inciais
Os testes iniciais foram realizados com cachaças produzidas no estado, para avaliar se havia adulterações durante ou após o processo de fabricação. Isso porque, conforme observou o professor Félix, a Paraíba é um dos maiores produtores de cachaça de alambique do Brasil, especialmente a cidade de Areia, no Brejo do Estado, onde ainda existem muitos engenhos em funcionamento.
Artigos científicos
Desta pesquisa, foram publicados dois artigos científicos sobre o método na revista “Food Chemistry” e outro na revista “Food Research International”, revistas dedicadas à química e bioquímica dos alimentos.
Canudo sustentável
No momento, a equipe está trabalhando na confecção de um novo mecanismo de segurança que consiste em um canudo sustentável de baixo custo, capaz de mudar de cor ao entrar em contato com o metanol. O dispositivo funciona de maneira semelhante a um teste de gravidez.
“A gente está finalizando algumas unidades do canudo sustentável nesta semana, para que na próxima semana já possa começar os ensaios, na parte mais elevada relacionada à segurança do consumidor final”, anunciou o pesquisador. Os canudos sustentáveis estão sendo produzidos na Fundação Parque Tecnológico de Campina Grande e, segundo os pesquisadores, com todo cuidado e segurança para evitar contaminação.
Mais acessível
O professor Railson de Oliveira Ramos explicou que esse método é mais acessível, podendo ser utilizado por distribuidoras ou proprietários de bares e restaurantes, que poderiam receber o treinamento e verificar se o lote ou a bebida que eles estão adquirindo contém ou não a presença de metanol.
“A ideia é que nós consigamos empacotar os reagentes em um canudo biodegradável. Esse canudo atua como uma espécie de coluna cromatográfica, que seria o empacotamento de reagentes em uma mídia. Quando ele entra em contato com a bebida, o fluido sobe por capilaridade, interagindo com os reagentes. E ali dentro do canudo, com os reagentes protegidos para que ninguém tenha contato com eles, acontece uma mudança de coloração visualizada na parte externa do canudo”, explicou o pesquisador.

Acreditam
Os pesquisadores acreditam que o sistema poderá ser amplamente utilizado por órgãos de fiscalização, produtores e comerciantes, contribuindo para a segurança do consumo de bebidas alcoólicas no país. Esta outra tecnologia foi desenvolvida com a colaboração de professores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e com o financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (FAPESQ), órgão ligado ao Governo da Paraíba.
O primeiro estudo
O professor Felix Brito, do Programa de Pós-graduação em Ciências Agrárias, explicou que o estudo foi feito a partir da leitura de 462 amostras de cachaça — bebida tradicional da Paraíba.
Professor Félix lembrou que, em 2020, foi aprovado um projeto na FAPESQ com valor de R$ 1 milhão, o que permitiu a construção do Laboratório de Tecnologia da Cachaça e Aguardente, que funciona no complexo da Central de Laboratórios Multiusuários (LABMULTI), no Campus I.
Pesquisas no laboratório
No laboratório, são realizadas pesquisas científicas para desenvolver e aprimorar a qualidade da cachaça por meio do estudo da fermentação, das leveduras, de contaminantes, incluindo o metanol, e de outras questões.
O interesse do ministério
Diante do avanço assustador dos casos de intoxicação no Brasil e da urgência de conter o problema, a tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da UEPB chamou a atenção do Ministério da Saúde e pode virar uma política pública. O Ministro da Saúde Alexandre Padilha se interessou pela tecnologia e, em reunião com a reitoria, com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e com o grupo de pesquisadores, manifestou interesse em tornar a tecnologia uma política pública.
Precisam de recursos
A pró-reitora de Pós-Graduação, a professora Nadja Oliveira, enfatizou que os pesquisadores precisam de recursos para avançar na tecnologia.
“Nós precisamos de recursos para escalonar a tecnologia. Nesse momento, para que a gente consiga fazer com que os dispositivos de baixo custo e a solução cheguem para o Brasil inteiro, a gente precisa de recursos para poder adquirir insumos. Com os recursos teremos a capacidade de aumentar a equipe de pesquisadores e, com isso, conseguir entregar em escala o que a gente produziu no ambiente de laboratório de pesquisa”, observou a pesquisadora.
Severino Lopes
O Poder
Fotos: Giuliana Rodrigues/CodecomUEPB

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