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É Findi - Um dia bom. Descobri quem matou Odete Roitman - Crônica, por Ana Pottes*

11/10/2025 -

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Um fusca azul-piscina, com pintura a reluzir aos primeiros raios de sol, para ao lado do mercado público. Desce uma mulher, vestindo moletom, camisa preta, tênis branco e faixa multicolorida a segurar cabeleira crespa e despenteada. Àquela hora o vai e vem dos carros é pequeno. Carla apressa o passo, pois o tempo corre e levar Júnior à escola, antes de seguir para o atelier, é sua missão.

Na entrada principal uma pequena rampa para cadeirantes chama atenção pelo descuido. Pode causar um acidente feio.

A barraca de dona Zita ainda está fechada. Observa os corredores, poucas pessoas transitam, espaços altos ladeados por boxes, como se fosse caixinhas de surpresas. Gosto daqui, dos cheiros e cores de cada um.

A passos largos atravessa o corredor e para diante de um box. Carne de sol e linguiças penduradas; à esquerda, sobre um balcão, arrumados feito bolinhas de ping-pong em cesto aramado, ovos brancos e, em pequenas cubas esverdeadas, na horizontal, os amarelinhos - de capoeira. Ao fundo, de costas para a entrada, um homem gordo; ralos cabelos sobre a cabeça, parece comer algo.

- Bom dia, senhor.



Ele se vira, tem um palito no canto da boca, abre um sorriso e vem na sua direção:

- Dia. O queijo coalho está de derreter. Já vou dizendo.
- Imagino. Mas quero do outro. Pode colocar meio quilo de queijo manteiga.
- Claro. A senhora escolheu bem, está fresquinho.
-Também quero um vidro daquele mel de abelha, parece puro.
-Sim, é entregue por meu cunhado; ele cria abelhas e o que produz é vendido aqui.
Esse eu garanto!
- Que maravilha! Assim fico freguesa.

Uma mulher galega, de bochechas rosadas, trazendo nos braços um cachorro peludo com cara de marrento se aproxima:

- Seu Chico, veja para mim uma dúzia desses ovos de capoeira. Marcola só aceita esses, e estica o lábio inferior na direção do peludo.

Seu Chico pega uma bandeja e vai acomodando os amarelinhos sobre ela.

- Dona, nunca vi bichinho mais luxento, mas sabe o que é bom. Olha para Carla, sorrindo:

- Já viu disso? Hoje em dia eles são assim, mandões. Minha filha tem um gato que parece com o tal do Marco Aurélio. Sabe quem é?

Carla balança a cabeça de um lado para o outro e ele continua:

É todo engomadinho, de venta aprumada pra cima e anda na maciota. Rouba tudo que vê pela frente. Não se pode dar bobeira com ele por perto.

A moça alisando o peludo diz para Clara:

- Esse gato deve ser gato mesmo, abrindo um sorriso de canto a canto e deixando as bochechas mais vermelhas. E continua: se parece com o da novela... aquele é ladrão fino, e ainda é assassino. Voto nele. Acredito que o danado matou a chefona, a dona da TCA.

Carla aperta os olhos num sorriso, lembra do compromisso com Junior, paga e sai do box com a sensação de ter começado um dia bom, carregado de boas recordações. Afinal, acabou de descobrir quem matou Odete Roitman.


*Ana Pottes, psicóloga, gosta de escrever crônicas, contos e poemas sobre as interações emocionais com a vida. Autora do livro de poemas: Nem tudo são flores, mas... elas existem!



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