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A Cruz do Patrão e o Porto das Almas - Recife de pedra e dor Por Zé da Flauta*

13/10/2025 -

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Há lugares que guardam mais do que a história oficial ousa contar. A Cruz do Patrão, solitária às margens do velho porto do Recife, é uma dessas sentinelas do tempo. De pé entre o rio e o mar, parece observar o ir e vir das marés, das almas, dos navios e das promessas.

Quem passa por ali sente uma presença antiga, como se o vento soprasse nomes esquecidos, marinheiros, escravos, devotos, pecadores, todos misturados num só murmúrio que vem da terra úmida e salgada.

Lembrança

Dizem que ali repousam os que não tiveram direito a repouso. Corpos sem batismo, vidas sem registro, memórias sem retrato. Gente negra que cruzou o Atlântico acorrentada e encontrou na beira do cais o seu último abrigo.





A Cruz

A Cruz ergueu-se, talvez, para marcar o limite entre o mundo dos vivos e o dos que o mar não devolveu inteiro. E é por isso que o povo ainda acende velas, deixa flores, pinga cachaça e reza baixinho: para lembrar os que não puderam ser lembrados, para resgatar da sombra a dignidade roubada.

Velha ferida

Mas o Recife moderno corre apressado, muitas vezes cego à sua própria alma. Carros passam, prédios crescem, e poucos percebem o monumento discreto que desafia o esquecimento.

A Cruz do Patrão é um espelho de ferro e cal, onde a cidade poderia ver seu passado, o esplendor e a dor misturados, se tivesse coragem de olhar com o coração. Cada pedra em seu entorno parece pedir silêncio, como quem exige respeito a uma velha ferida que ainda pulsa.

Altar invisível

E talvez seja isso que ela ensina: que há histórias que não estão nos livros, mas no chão que pisamos. Que o verdadeiro patrimônio não é o monumento em si, mas o que ele desperta, a lembrança dos que foram silenciados, a compaixão pelos que vieram antes, a consciência de que o Recife ergueu sua beleza sobre o suor e o sangue de muitos. A Cruz do Patrão não é apenas um marco do porto, é o altar invisível da memória negra, erguido entre o sal do mar e o pranto da história.

Até a próxima!

*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.



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