
Lágrimas no deserto - A esperança também tem passaporte por Zé da Flauta*
15/10/2025 -
Há cenas que não cabem no noticiário, são maiores que as palavras, mais densas que qualquer manchete. A volta dos reféns a Israel é uma dessas cenas que o tempo não apaga. São corpos frágeis, mas corações inteiros, atravessando a fronteira entre o medo e o milagre. Cada passo é uma oração viva.
Abraço
Cada abraço é o fim de um pesadelo. Quando os ônibus brancos cruzam o deserto, não é apenas o som dos motores que se ouve, mas o eco das promessas, o choro contido de quem não acreditava mais no amanhã.
Sopro de esperança
Mães que beijam o rosto dos filhos como se quisessem devolvê-los ao ventre. Pais que tremem ao tocar as mãos pequenas que julgavam perdidas. Velhos que voltam com o olhar distante, não o olhar de quem viu a morte, mas de quem aprendeu a amar a vida com a urgência dos que quase a perderam. Há nas lágrimas do reencontro um sabor de renascimento. É como se Deus, cansado de ver tanta dor, tivesse soprado um pouco de esperança sobre aquele pedaço de terra.
Espera
Mas a alegria vem misturada com um silêncio que não se explica. Porque atrás de cada vida resgatada há uma multidão que ainda espera. Cada sorriso é também um lembrete do que falta. A guerra não termina quando as armas calam, termina quando o coração do homem desaprende o ódio. E esse aprendizado ainda está longe de ser concluído.
Velas acesas
Mesmo assim, há luz. Há crianças que voltam a brincar, mães que voltam a cozinhar, velas que voltam a ser acesas não por luto, mas por gratidão. E talvez seja esse o milagre maior, o de não deixar a esperança morrer, mesmo depois de tanto escuro.
A volta
A volta dos reféns é mais do que um fato político; é um testemunho da resistência humana, do amor que sobrevive às ruínas. Porque, no fim, é sempre o amor, e só o amor, que devolve o homem ao caminho da paz.
Até a próxima!
*Zé da Flauta é músico, compositor, filósofo e escritor.
