
É Findi – O Despotismo de Pedro I - por Carlos Bezerra Cavalcanti*
18/10/2025 -
Poucos conhecem a figura despótica do nosso primeiro Imperador que, diferentemente de seu filho, D. Pedro II, tratava Pernambuco com desdém. Assim, vejamos o depoimento de Basílio Torreão quando levou a proposta de Governo escolhido pelos Pernambucanos.
Com a palavra, portanto, aquele emissário:
“O imperador dava audiência de pé, sobre um degrau do trono; reparei que estava de sobrecasaca e com uma só condecoração."
Finda a audiência, entrou para os seus aposentos, tomou a farda de que usava, com a grã-cruz e mais condecorações, e seis minutos mais ou menos, tornou a aparecer, subiu ao trono, e mandou nos chamar. Entramos com as formalidades do estilo e sem mais preâmbulos fui lendo o meu papel, em o qual estávamos todos assinados.
Terminada a leitura, disse o imperador, tomando-se o papel que eu lhe oferecia:
- Tenho resolvido que seja Presidente não o Morgado3 e nunca o Carvalho; obrei como um bom Pai; cortei a questão, nomeando um terceiro, José Carlos Mayrink, para presidir a Província de Pernambuco.
Então eu, conquanto não tivesse missão para tanto, tornei-lhe:
- Senhor, por este ato paternal, permita-me que, em nome de Pernambuco, beijemos a mão de Vossa Majestade Imperial.
Até aqui tudo foi lisonjeiro, e se pudéssemos nos retirar naquele ponto, sairíamos airosos, com grande desapontamento do Martins, que mostrava desejos de nos suplantar; mas o imperador continuou:
"Sinto que os Pernambucanos me tenham sido traidores”
Ao que repliquei:
- Senhor, os Pernambucanos...
O imperador atalhou-me, dizendo:
"Não preciso que me diga nada; eu sei mais do que Vosmecê a história de sua Província”.
Abalancei-me a replicar (nisto é que foi meu erro):
Mas Senhor, permita-me V.M. que eu defenda os meus consti...
Mal tinha eu terminado a frase, quando o homem, com os olhos chamejantes, pondo na boca o dedo indicador, deu-me um sio, dizendo-me em seguida:
- Nem mais uma palavra!
Então fizemos a última reverência e saímos acompanhados do Martins e mais catervas convocados "ad hoc"
*Carlos Bezerra Cavalcanti, Presidente Emérito da Academia Recifense de Letras
