
O pedestre no trânsito, por Gilvando Rios*
18/10/2025 -
Alguém logo diria: isso é uma coisa pedestre. Não, retruco, de modo algum é um assunto banal. A propósito, no início dos anos 60, chegando a Paris, do Recife, catapultado por um avião a hélice da saudosa Varig, surpreendi uma matéria no jornal Le Monde que me deu tratos à bola. Noticiava reivindicações de uma Association des Piétons (Associação de Pedestres).
Isso mesmo, inimaginável donde provinha. Mais surpreendente ainda era ver os automóveis pararem no sinal vermelho, à noite, mesmo que não houvesse nenhum pedestre passando. Aliás, os semáforos, sinais no linguajar recifense, para pedestres já eram a regra, não a exceção.
Sinal das coisas
Por falar em sinal, sinal das coisas, é comum entre nós o pedestre agradecer, polegar para cima, ao motorista que parou permitindo sua passagem numa faixa adrede para isso pintada.
Há nisso um reconhecimento de submissão, uma inversão, tal o inesperado da conduta. O pedestre perde a prioridade para o carro, daí o agradecimento pela suposta gentileza.
‘Carrocracia’
O fato dos pedestres virem na base da pirâmide dos que transitam, alguém com propriedade já falou em “carrocracia”, não deve fazer esquecer que os mesmos também têm seus espaços de locomoção, as calçadas, nem sempre bem calçadas é verdade, inclusive porque nossa legislação as confina no domínio privado, atribuindo aos proprietários dos imóveis a responsabilidade de sua construção, formato e manutenção.
Um prefeito que trate as calçadas como vias dos pedestres demonstra sensibilidade social.
*Gilvando Sá Leitão Rios é sociólogo, professor aposentado da UFPB, tendo trabalhado antes na SUDENE como técnico em Desenvolvimento Econômico. Desenvolveu pesquisas na área dos Transportes, tendo publicado os livros “Linhas apagadas – do coletivo como arcaico ao individual como transporte (a extinção dos bondes na década de 40) ” e “Fora dos trilhos – a questão ferroviária como questão social”. Ambos pela Editora Universitária UFPB.