Quem São os Porcos? Denúncia sobre o descaso ambiental e sanitário da sociedade na porta de hospitais do Recife, por Emanuel Silva*
21/10/2025 -
Não tem como aliviar. A responsabilidade é de moradores da área, sem a mínima sensibilidade. Na manhã desta terça-feira, 21 de outubro de 2025, às 7h, mais uma vez a calçada situada entre o Procape (Hospital do Coração de Pernambuco) e o Hospital Oswaldo Cruz, no bairro de Santo Amaro, amanheceu coberta por lixo doméstico (ou comercial) e restos orgânicos. O ponto exato é conhecido: a esquina antes parada de táxi, na curva de acesso ao hospital.
Não se trata de um caso isolado. A cena se repete, quase como um ritual da estupidez urbana — sacolas rasgadas, sobras de comida, caixas de papelão e resíduos em decomposição. O odor fétido, as moscas e o risco biológico convivem com pacientes, profissionais de saúde, taxistas e ambulantes.
A contradição e o risco à saúde pública
É espantoso e revoltante que isso ocorra justamente à porta de dois dos mais importantes hospitais públicos do Estado, unidades de referência em atendimento de alta complexidade. A Prefeitura do Recife, por meio da Emlurb, vem realizando esforços para conter a prática — pintando muros, fixando avisos e instalando lixeiras —, mas o problema persiste.
O comportamento desses indivíduos, que insistem em despejar lixo irregular, configura grave risco sanitário, pois contribui para a proliferação de moscas, ratos e vetores de doenças em uma área hospitalar. Vírus, bactérias e fungos se espalham pelo vento e pela movimentação de pessoas, atingindo inclusive quem busca tratamento ou trabalha na área da saúde. Trata-se de uma ameaça concreta à biossegurança urbana e à saúde coletiva.

A reflexão necessária: educação, fiscalização e punição
A questão vai além da limpeza pública: é um problema de civilidade, saúde e justiça.
Como educar cidadãos que agem com tamanha irresponsabilidade?
Como promover campanhas de conscientização se a cada nova tentativa de organização o espaço público é violado?
Não seria o momento de o Ministério Público, a Prefeitura do Recife, o Governo do Estado, a Guarda Municipal e a Emlurb agirem em conjunto para estabelecer leis mais rigorosas e punições exemplares para esse tipo de conduta?
O ato de despejar lixo em via pública, especialmente nas imediações de unidades de saúde, deve ser tratado como crime ambiental e sanitário, com pesadas multas e forte responsabilização penal.
A urgência da ação: da denúncia à responsabilização
Após quatro horas da primeira constatação, o lixo permanecia no local — o cheiro forte e os insetos multiplicando-se.
Taxistas e consumidores de barracas próximas parecem acostumados à sujeira, o que apenas reforça a normalização da degradação urbana.
É preciso interromper esse ciclo.
A omissão diante do problema é tão grave quanto o ato em si.
A sociedade não pode aceitar que “porcos travestidos de humanos” transformem a porta de um hospital em depósito de resíduos.
É hora de transformar a indignação em ação: fiscalizar, multar, registrar, denunciar e responsabilizar.
Porque a pergunta que ecoa não é apenas “quem joga o lixo?”, mas “até quando fingiremos não ver?” E "até quando seremos complacentes com estes porcos"?
*Emanuel Silva é professor universitário e articulista.

