A COP 30, em Belém, força o Brasil a conciliar o clima global com a exploração de petróleo na Amazônia. Nesse debate, ressurge Monteiro Lobato, o incansável pioneiro da campanha "O Petróleo é Nosso!" e visionário do desenvolvimento nacional. Analisar suas ideias e frases icônicas, mesmo um século depois, é fundamental. Fomos até o sítio famoso para prosear com o ídolo. Local: Casa Sede do Sítio do Picapau Amarelo, 20 de Outubro de 2025.


Sonhos

Roberto Vieira: Sr. Lobato, sou fã de carteirinha! Estar aqui no Sítio é realizar um sonho. O senhor sempre disse que "Tudo tem origem nos sonhos. Primeiro sonhamos, depois fazemos."

Monteiro Lobato (ML): (Com um sorriso e um aceno) Fico contente, meu caro. A alma que não sonha está morta. E é a ação que nos tira da inércia, afinal, "O que há de pior é a inércia."

Petróleo

Roberto Vieira: A ação de hoje é na Amazônia, com a COP 30 e o dilema do petróleo. O senhor lutou pela exploração, afirmando "O petróleo é nosso!" Como responde a quem o chama de ultrapassado por defender essa fonte?

ML: Minha luta era pela soberania! "Meu plano agora é um só: dar liberdade e petróleo ao Brasil." Se isso era vital para nos erguer, é preciso hoje nos erguermos com o mesmo vigor, mas com a cabeça no lugar. O Brasil precisa de energia para ser dono do seu nariz. A covardia em usar o que é nosso, ou a burrice em não pesquisar novas formas, é o que atrasa.

Floresta

Roberto Vieira: Mas há o risco de destruir a floresta. Como concilia sua frase "A natureza criou o tapete sem fim que recobre a terra. Nenhum o estraga, nenhum o rói, exceto o homem" com a vontade de explorar na região?

ML: Ah, o dilema do homem! É a prova de que "Quem tem força, abusa." Se a ciência é capaz de nos levar à Lua, deve ser capaz de nos impedir de destruir o próprio lar! O erro não está no recurso, mas na nossa ganância descontrolada e no nosso método. O desafio da COP 30 é justamente usar a ciência para provar que somos capazes de sermos diferentes. "Quem escreve um livro cria um castelo, quem o lê mora nele." Pois que usemos essa inteligência para construir um castelo onde o petróleo coexista com a floresta.

Educação

Roberto Vieira: O senhor criticava duramente o país, dizendo que "O brasileiro é um povo que não tem a menor ideia do que é um Estado." O que o senhor vê de diferente no povo que hoje debate o clima?

ML: Vejo um povo que ainda precisa despertar! A base de toda boa política e de toda boa decisão é a leitura! Eu repito: "Quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê." O cidadão que não lê se torna um joguete fácil. É a "ignorância do povo faz com que o povo vote em quem não presta." A única forma de tomar decisões maduras, como a que a COP 30 exige, é armando a cabeça do brasileiro, não as mãos. É por isso que insisto: "Um país se faz com homens e livros."

Recado

Roberto Vieira: Para fechar, qual o recado para os jovens que herdarão o planeta em meio à crise climática?

ML: As crianças são a única esperança. "A mim me salvaram as crianças. De tanto escrever para elas, simplifiquei-me." Eu digo: "Não faça de seu filho uma planta. Plante nele uma horta!". Aos jovens, o recado é este:

"Seja você mesmo, porque ou somos nós mesmos, ou não somos coisa nenhuma." Usem o poder da imaginação para sonhar a solução. Não se deixem abalar, pois "Nunca no mundo uma bala matou uma ideia." E lembrem-se, já "...tantos sonhos se realizaram que não temos o direito de duvidar de nenhum."

Roberto Vieira: Um recado atemporal. Muito obrigado, Sr. Lobato

ML: Obrigado a vocês, do Jornal O Poder, por manterem acesa a chama da curiosidade. É a única coisa que nos salva

Roberto Vieira é médico e cronista.
 
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