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O Buraco da Otília e de Vitalino, por Roberto Vieira*

29/10/2025 -

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Era um ritual sagrado de família: ir ao Restaurante da Otília. Lembro-me da expectativa no carro, a caminho daquele refúgio de sabor e afeto no Recife Antigo. Eu era muito pequeno, mal alcançava a mesa, mas absorvia os aromas inconfundíveis e o burburinho alegre. Meus pais pareciam reviver um pedaço da juventude, enquanto eu me deliciava com os pratos — exceto, é claro, a buchada. Confesso: aquele prato famoso da casa nunca me desceu! Mas o lugar era a própria memória afetiva, mantendo viva a tradição e o calor humano de um lar.

?Otília
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Otília era a alma, a matriarca daquele lugar. Sua presença era imponente e, ao mesmo tempo, acolhedora. Ela não apenas comandava a cozinha; ela recebia a todos como filhos. Dizem que o segredo de seu cozido era o amor e a dedicação de quem entende que a comida é o elo mais forte entre as pessoas.

Ela transformou um simples restaurante em um patrimônio cultural do Recife, ponto de parada obrigatória para artistas, intelectuais e políticos. Sua história se confunde com a da culinária pernambucana de raiz, mesmo para aqueles que, como eu, torciam o nariz para a famosa buchada.

?Vitalino

?Mestre Vitalino, o nome que ecoa na história da arte popular brasileira. Vindo de Caruaru, ele deu forma à vida do sertão com suas mãos habilidosas, transformando o barro em figuras que contavam histórias: vaqueiros, retirantes, casamentos e a simplicidade da vida nordestina. Suas peças, repletas de lirismo e precisão, transcenderam a feira de Caruaru e ganharam o mundo. Ele foi um cronista visual, e suas esculturas são um registro eterno da cultura e do povo de Pernambuco, com uma autenticidade que inspira até hoje, sendo um orgulho imenso para a nossa região.

?Encontro

?Um dia, enquanto esperávamos o prato principal, meus olhos encontraram a foto. Lá estavam eles: Otília e Mestre Vitalino. Talvez, com minha pouca idade, eu esteja apenas imaginando a cena, mas na minha memória, o encontro é real.


A arte do barro

Parece um choque de reconhecimento: a arte do barro encontrando a arte da cozinha, lado a lado, unidos pela mesma paixão. A imagem, lembrança ou sonho, captura a essência do Recife que eu conhecia, onde a grandeza estava na simplicidade e no talento do nosso povo. Imagem que luta com minha racionalidade, pois Vitalino se foi antes mesmo d'eu nascer.

?Recife

?O Recife da Otília, de Vitalino e da minha infância é hoje uma doce miragem. Sinto uma profunda saudade daquele tempo, da cidade que pulsava com o cheiro de mangue e o sotaque carregado. A memória do Restaurante da Otília, com a foto dos mestres (real ou imaginária), é um portal para a nostalgia. É a saudade dos meus pais, da mesa farta, do aconchego que não volta. Mas a arte e as lembranças permanecem, como as lembranças dos meus pais e do que faz parte infinita do meu coração, transformando sonho em real.

*Roberto Vieira é médico e cronista. Preceptor da Residência de Oftalmologia da Fundação Santa Luzia/Casa Forte e da Uninassau.

NR - Os textos assinados expressam a opinião dos seus autores

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