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Fome da Alma: Entre humanos e máquinas, por Meraldo Zisman*

29/10/2025 -

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Houve um tempo em que a fome era do corpo. O homem lutava contra a seca, a terra dura, a ausência do pão. Era a fome ancestral — visível, concreta, brutal. Ela fazia o corpo se mover e o espírito resistir. Ainda hoje, essa fome persiste. Em cada esquina do mundo há quem procure o que comer, enquanto outros desperdiçam o que têm. A fome do corpo continua a envergonhar a humanidade.


Século moderno

Mas o século moderno criou uma fome nova — menos visível, mais profunda — a fome da alma. Ela não emagrece o corpo, mas consome o sentido da vida. É a fome de ternura, de presença, de escuta, de amor. É a carência de vínculo num tempo em que a abundância de meios convive com a escassez de sentimentos.

As máquinas aprenderam a falar, a responder e até a simular compreensão. Tornaram-se presenças constantes — precisas, rápidas, educadas. Elas calculam, preveem e obedecem, mas não sentem.

O erro, a dúvida, o perdão

São perfeitas demais para conhecer o erro, a dúvida, o perdão. Cercados por telas, confundimos comunicação com encontro, rapidez com proximidade. Falamos com o mundo inteiro e esquecemos de conversar com quem está ao lado. A inteligência artificial reflete nossas carências mais íntimas. É o espelho que revela o quanto estamos famintos de afeto e, ao mesmo tempo, dispostos a aceitá-lo em forma de código.

Queremos ser compreendidos e recebemos respostas automáticas; queremos ser amados e ganhamos corações digitais; queremos companhia e encontramos presenças sem corpo.


Fome da alma

A fome da alma é a miséria invisível da abundância. O corpo se alimenta, mas o espírito continua à míngua. E as duas fomes — a do pão e a do sentido — caminham lado a lado, denunciando o mesmo abandono: o esquecimento do humano. A tecnologia calcula, mas não consola. Pode prever o comportamento, mas não entende o perdão. Pode traduzir palavras, mas não compreende o amor.

O risco

O risco não está nas máquinas, mas em nós — quando desistimos de sentir. O homem moderno sofre não da falta de alimento, mas da falta de significado. Alimenta o corpo e deixa morrer a alma. Apressado, perde o gosto do instante; cercado de ruídos, perde o silêncio interior onde mora o sagrado.

Desafio

O verdadeiro desafio do nosso tempo não é ensinar as máquinas a pensar, mas lembrar os homens de sentir. A vida não é um dado — é um dom. E o dom não se programa; apenas se partilha. No fim, o que nos salvará não será o progresso, mas a ternura.


Máquina

Nenhuma máquina, por mais inteligente que seja, compreenderá o instante em que duas mãos se tocam e duas fomes — a do corpo e a da alma — se encontram, enfim, no alimento maior que sempre buscaram: o amor.


Meraldo Zisman é Medico Psicoterapeuta

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