Chacina do Rio: “bandido bom é bandido morto”? por Natanael
30/10/2025 -
A chacina policial contabilizou até o momento 128 mortos, a maior da história. Lembramos da frase “bandido bom é bandido morto”. Popularizada e objeto de pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania - 50% dos brasileiros aprovavam em 2016. Nos dias atuais, com mais insegurança ainda nas grandes cidades controladas por facções e milícias, a emenda na atualização da consulta piora ainda mais o soneto.
Rio
A questão “nacional” da criminalidade no Rio de Janeiro é antiga. Complexos urbanos periféricos controlados por traficantes e facções criminosas e índices alarmantes de mortes violentas que lembram países em guerra.
Campeão
Cláudio Castro do PL, aliado do Bolsonaro merece o título desonroso de campeão de mortes em chacinas como gestor no RJ. Sua desastrosa política de segurança pública bate, sucessivamente, os próprios recordes. Nas operações policiais letais da capital carioca, ontem superou a casa de centenas de mortos em única operação, no Alemão e Penha; bem mais que 28 chacinados no Jacarezinho, 2021 e a duas chacinas de 2022 somadas, 23 mortos na Vila Cruzeiro e 16 no complexo do Alemão (dados UFF-Geni).
Quem perde?
Todos perdem com essa denominada “guerra ao crime”? Não. A indústria armamentista lucra. Milicianos e bandidos se enfrentam ou se entendem e a população sofrida paga o pato. Nos mistérios do aquém desses executivos e parlamentares defensores da liberação e venda de armas, em nome da “segurança do cidadão”.
Fracasso
A questão da segurança pública está longe de se resolver na via armamentista e individual. É uma retórica oca que engabela os tolos. As armas e munições chegam aos bandidos e milícias com mais facilidade, essa a pura verdade. Aumentam-se os crimes letais e a insegurança dos cidadãos, em vias públicas ou dentro de casa.
Fuzis
Metralhadoras ponto cinquenta usadas em defesas antiaéreas, munições e fuzis modernos e de grosso calibre nas mãos do PCC, CV, das milícias e de outras súcias. Armamentos são mercadorias de alto valor, não cabem no bolço do pobre favelado, nem circularia nos morros, sem o concurso de ricos empresários e de políticos influentes.
Luxo
Lembrar para não esquecer que no condomínio de luxo da Barra da Tijuca onde morava Bolsonaro 117 fuzis foram apreendidos na casa do vizinho e amigo Roni Lessa, em 2019.
Liberou
A governança do Bolsonaro foi “trem da alegria” da indústria de armas e “farra do boi” da bancada da bala. Baixou quatro decretos escancarando a porteira das armas. Legalizou absurdos tipo liberdade para maiores de 14 anos praticar tiros; aquisição pessoal de seis a oito armas “per capita”; retirada do controle do Exército sobre caçadores, atiradores e colecionadores de armas, fim de limites de compra de munição pelas escolas de tiro, etc.
Nessa toada
A governança “Deus, Pátria e família” legou 619 licenças por dia nos CACs – Colecionador, Atirador e Caçador e quase um milhão de registros ao país. Excessos que levaram a Rosa Weber do STF suspender os pontos mais abusivos dos decretos presidenciais.
Transtornos
Nove milhões de cariocas ficaram sem trens, metro, unidades de saúde, escolas e universidades. Caos urbano. Resultado da política de “segurança pública” de visão fascista armamentista e violenta. Cortam verbas de educação, saúde, desportos e aumentam em armas e segurança.
Manipulação
Discurso demagógico e fascista, sem propostas efetivas para atingir as causas, atiram nos efeitos. Não vão as causas da criminalidade para não dar tiros no pé. É mais fácil a rasa repressão que ecoa na população aterrorizada. Tem respaldo da mesmice rasteira da mídia, a não dizer venal e controlada.
Ocultação
Oculta-se, ordinariamente, nos noticiários, a questão essencial. As ligações e intercessões de poderosos empresários e políticos com as facções e milícias em todo Brasil.
Pirotecnias e campanha
Operações policiais como espetáculos pirotécnicos que resultam em chacinas nas favelas. Paradoxalmente, dão “pontos” para candidatos que “combatem a criminalidade”. Instrumento de campanhas eleitoral o sangue do pobre e negro das comunidades, criminosos e inocentes no combo. Dos 45.747 assassinatos no Brasil em 2023, 76,9% negros na condição de pobreza. Todos bandidos?
Condenado, mas nem tanto
O ex-presidente, condenado a 27 anos de prisão, debocha do sistema jurídico em seu condomínio de luxo. Tem crédito de favores e prebendas de advogados e de togados. A tênue legalidade burguesa é elástica. Faz lembrar as teias das aranhas: prendem os insetos miúdos; não suportam a pressão dos insetos graúdos. Sobre a pergunta título do artigo, respondemos: bandido bom não é o bandido morto, é o mais vivo.
*Natanael Sarmento é professor e escritor. Do Diretório Nacional da Unidade Popular Pelo Socialismo - UP.
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