É Findi – Homenagem aos Mortos - por Carlos Bezerra Cavalcanti*
01/11/2025 -
Amanhã, domingo, dia 2 de Novembro, o Brasil estará celebrando o Dia de Finados e, para tal, esta coluna estará evocando a data que foi Instituída no Brasil por herança de Portugal, onde já se referendava desde priscas eras.
Os Sepultamentos
Até a primeira metade do século XIX, os cadáveres eram sepultados nas igrejas, ou em qualquer terreno, quando não se tinha meios financeiros para realização de um cortejo mais digno.
Problemas de Saúde Pública.
Em 1850, irrompia no Recife uma epidemia de febre amarela que foi responsável por grande quantidade de vítimas fatais. A capital pernambucana passou a ser o epicentro irradiativo da endemia amarelítica, para o interior do estado e Províncias vizinhas.
A medicina à época não dispunha de conhecimentos científicos a respeito do grande mal. No entanto, já em 1851, comecou um movimento fortemente orientado por parte de alguns médicos no sentido de cobrar medidas inibidoras ao alastramento da moléstia. Entre essas deliberações exigia-se a proibição dos sepultamentos nas igrejas, prática comum e até defendida pelos religiosos, ou a ermo, no caso dos menos favorecidos.
Após efusivos debates com argumentos religiosos de um lado e médicos de outro, sob a expectativa da população temerosa, das epidemias que comumente flagelavam o povo resolveu o Governo mandar que se elaborasse a construção de um cemitério público.
Assim, em primeiro de março de 1851 passava a funcionar o Cemitério sob a invocação do Bom Jesus da Redenção, em Santo Amaro das Salinas, segundo informa Orlando Parahym.
A Capela
Uma bonita capela existente no interior do Cemitério foi concluída em 1855, projetada, assim como o próprio Cemitério, pelo engenheiro José Mamede Alves Ferreira, o mesmo que concluiu o Teatro de Santa Isabel e projetou a Casa de Detenção do Recife.
Personalidades Sepultadas no Cemitério do Bom Jesus da Redenção em Santo Amaro

Setor 01 - A Menina Sem Nome
Na tarde de 2 de julho do ano de 1970, eram sepultados os restos mortais de uma criança de 8 anos de idade, que ficaria conhecida como “Menina Sem Nome”. O pequeno e angelical corpinho, foi maculado por um mecânico de 22 anos de idade, Geraldo Magno de Oliveira, a quem o povo passou a chamar de “A besta do Pina”, pervertido sexual que se aproveitou da inocência da criança para violentá-la e depois assassiná-la, barbaramente, enterrando o corpo da pequena vítima na praia do Pina.
O cadáver da infeliz criança, depois de descoberto, ainda ficou por duas semanas no frigorífico do Cemitério do Bom Jesus da Redenção, em Santo Amaro, à espera de algum parente ou de, pelo menos, alguém que a reconhecesse, para ajudar às autoridades.
Profundamente consternado com o trágico acontecimento, principalmente por a menina ser uma criança pobre e desamparada, o Sr. José Antonio Braga, diretor da Casa do Menor do Recife, providenciou o sepultamento, organizando o funeral da infeliz vítima. Adquiriu o caixão e alguns paramentos fúnebres onde não faltaram flores, conduzidas por criancinhas da Casa do Menor, sendo o corpo sepultado no Setor 01 daquela necrópole. Com o passar dos dias, o caso foi ficando mais famoso. O túmulo sempre muito visitado, principalmente nos dias de Finado, 2 de novembro. Muitas velas eram ali colocadas, e, assim, muitas graças alcançadas e promessas pagas.
A fama da menina sem nome era cada vez maior, ultrapassando, inclusive, os limites da cidade do Recife, rompendo fronteiras, ficando conhecido até no exterior.
O teatrólogo Guilherme de Figueiredo, sensibilizado com o acontecimento, resolveu divulgá-lo ainda mais. Escreveu uma peça teatral que foi apresentada no Rio de Janeiro, em São Paulo e até em Buenos Aires.

Setor 02 - Conselheiro Rosa e Silva
Francisco de Assis da Rosa e Silva, nasceu no Recife, em 4 de outubro de 1857, e faleceu na capital da República, em 1º de julho de 1929. Era filho do abastado e influente comerciante português Albino Silva, e de Joana Francisca da Rosa. Já aos dezesseis anos ingressou na Faculdade de Direito do Recife, recebendo o título de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais na turma de 1877, juntamente com o seu irmão José Marcelino da Rosa e Silva.
Em 1879, segue para a Europa para aperfeiçoar seus estudos e aprimorar seus conhecimentos, regressando dois anos depois.
Ao retornar, ingressa na política, filiando-se ao Partido Conservador com base política e econômica na aristocracia rural, por isso, e graças a sua visão privilegiada, bom orador, e boa aparência, tornou-se a principal figura política de Pernambuco, com projeção nacional irrefutável, não obstante os percalços de seu relacionamento com o empresário Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, simpatizado por seus opositores, por seu ímpeto e tino empresarial. Porém, segundo o professor de História Ernane Souto Andrade: "Os empresários do açúcar, entre eles vários parentes ou a solidariedade de classe, davam todo o suporte para Rosa e Silva controlar o governo".
Já em 1882, foi eleito deputado provincial e, na gestão seguinte, em 1886, com 29 anos de idade, seguia para o Rio de Janeiro para assumir o mandato de deputado federal, e ainda durante o Império, foi Ministro da Justiça.
Em 1890, no início da República, foi eleito deputado à Assembléia Nacional Constituinte, conservando o seu mandato nas duas legislaturas seguintes, quando foi presidente da Câmara no biênio 1894-1895, depois foi eleito senador por Pernambuco, mandato que renunciou em 1898 para assumir a vice-presidência da República.
Por controlar o Diário de Pernambuco e, de certa forma, a opinião pública local, Rosa e Silva foi, por vários anos, mesmo ausente de sua terra, o monitor da política estadual e por essa influência chegou à vice-presidência da República, como vimos. Seu prestígio, no entanto, começou a se abalar na segunda década do século passado.
Em 1910, assume a presidência do País o general Hermes da Fonseca, que repudiava a oligarquia instalada no Estado. Em 1911, indica o general, Ministro da Guerra, Emídio Dantas Barreto, para concorrer ao governo de Pernambuco. Diante do crescimento da oposição, Rosa e Silva decide disputar a eleição. O Exército dava cobertura a Dantas Barreto e a Polícia Estadual era fiel a Rosa e Silva. Os choques armados eram diários, resultando em mortos e feridos.
O resultado das eleições embora dando vitória ao conselheiro aclama Dantas Barreto como vencedor, com o apoio do Exército.
Rosa e Silva, no entanto, não cairia facilmente, ao longo do governo de seu opositor, reconquistou parte de seus simpatizantes e elegeu-se senador, cargo que ostentava ao falecer no Rio de Janeiro, em 1929, às vésperas da Revolução de Trinta.
*Carlos Bezerra Cavalcanti, Presidente Emérito da Academia Recifense de Letras


